11/02/2011

Racismo: ninguém sente, ninguém vê, ninguém sabe o que é - Ana Maria Gonçalves

Diante de tantos anos de negação e silêncio, é preciso começar a entender que os preconceitos, como o racismo, são produtos da cultura na qual estão inseridos, e como tais adaptam-se às condições de manifestação aceitáveis e estabelecidas pela sociedade, manifestando-se às claras ou de forma velada e simbólica.

Diante da revelação feita por um famoso cantor brasileiro, negro, de que sua filha de seis anos estava sendo discriminada durante a aula em uma das escolas de balé mais tradicionais de São Paulo, com as outras alunas se recusando a dar as mãos para ela, ou do depoimento de uma menina, também de seis anos, aluna de escola pública, no qual conta que as coleguinhas não querem brincar com ela durante o recreio porque sentem nojo por ela ser negra, resta-nos parar e perguntar: a quantas situações de humilhação essas e outras crianças continuarão a ser submetidas pela vida afora, antes que a sociedade tome para si a responsabilidade de discutir, entender e combater o racismo?

O racismo, como o percebemos hoje, é uma instituição relativamente recente na história na humanidade. Até por volta da Idade Média, os principais fatores de discriminação eram religiosos, políticos ou referentes à nacionalidade e à linguagem do indivíduo. No século XV, quando os europeus desembarcaram na África, e principalmente com o início do tráfico negreiro, usaram a ciência a favor do colonialismo e desenvolveram teorias de superioridade evolutiva, baseadas em diferenças biológicas, que justificavam seus interesses de expansão e poder. Estava criado o racismo etnocêntrico, fundamentado em doutrinas bíblicas, filosóficas e científicas que não resistiram à evolução dos tempos, mas que deixaram marcas indeléveis e profundas nas sociedades que as usaram para justificar a escravidão, como é o caso da sociedade brasileira. O conceito de "raça" - e termos derivados - hoje em dia é apenas político e social, e se justifica porque os traços físicos (cabelo, cor da pele, formato de nariz e boca etc) característicos da população negra ainda estão ligados à percepção negativa historicamente construída.

No final do século XIX, com a abolição da escravatura e ainda sob forte influência das teses de superioridade europeia, começa a ser colocado em prática um projeto de construção de uma nova nação brasileira, que deveria ser melhorada através do embranquecimento de seu povo. Acreditava-se que, com o passar dos anos, marginalizada, inferiorizada, difamada e abandonada à própria sorte, a população negra desapareceria. Até mesmo o acesso à educação e a possibilidade de conseguir trabalho lhe foram negados, com o governo dando total prioridade a políticas que subsidiaram a vinda de mais de 3 milhões de imigrantes europeus para o Brasil. Algumas décadas mais tarde, a teoria do embranquecimento deu lugar à da miscigenação, que acabou criando um dos mitos mais prejudiciais à luta contra o racismo: o mito da democracia racial. Foi ele que, durante décadas, impediu o Brasil de se tornar um país realmente democrático, com tratamento e oportunidade iguais para todos, ao negar reconhecimento a um problema que atinge mais da metade da nossa população.

Diante de tantos anos de negação e silêncio, é preciso começar a entender que os preconceitos, como o racismo, são produtos da cultura na qual estão inseridos, e como tais adaptam-se às condições de manifestação aceitáveis e estabelecidas pela sociedade, manifestando-se às claras ou de forma velada e simbólica. É por isso que apenas a razão, que nos levou a criar leis que criminalizam atitudes racistas e algumas ações afirmativas, não será suficiente para modificar o imaginário e as representações coletivas negativas que se tem do negro na nossa sociedade, como observa o antropólogo e professor Kabengele Munanga na apresentação do livro Superando o racismo na escola. Segundo ele, "considerando que esse imaginário e essas representações, em parte situados no inconsciente coletivo, possuem uma dimensão afetiva e emocional, dimensão onde brotam e são cultivadas as crenças, os estereótipos e os valores que codificam as atitudes, é preciso descobrir e inventar técnicas e linguagens capazes de superar os limites da pura razão e de tocar no imaginário e nas representações. Enfim, capazes de deixar aflorar os preconceitos escondidos na estrutura profunda do nosso psiquismo".

Se hoje já se admite que o Brasil é um país racista, é preciso admitir também que nossos pensamentos e atitudes são condicionados por essa cultura e essa ideologia racista, pois crescemos introjetando e reproduzindo o que já está estabelecido socialmente. Para mostrar como isso funciona, um interessante trabalho, desenvolvido no departamento de Psicologia da Universidade Federal de Sergipe, analisa pesquisa realizada com crianças de 5 a 8 anos. Foi pedido a essas crianças que desenhassem uma criança branca e uma criança negra e as classificassem, em termos de preferência, em relação a cinco categorias: riqueza, beleza, inteligência, proximidade e contato. O resultado foi um alto índice de racismo, com a criança negra sendo fortemente rejeitada em todas as categorias. O que o estudo queria mostrar é que as crianças são abertamente preconceituosas, e que essa característica perde força a partir da maturação das estruturas cognitivas que permitem que ela deixe de julgar as pessoas com quem se relaciona apenas pela aparência e passe a levar em conta conceitos como bondade ou amizade. Acabou mostrando também que o racismo, longe de desaparecer com a idade e a necessidade de socialização, caso não haja nenhuma iniciativa nesse sentido por parte de pais e/ou educadores, é introjetado e velado pelo aprendizado das normas sociais vigentes, passando a se manifestar de forma indireta e, em muitos casos, inconsciente. O racismo volta então a habitar e alimentar o inconsciente coletivo, que trata de reproduzi-lo de uma geração para outra, tornando-o cada vez mais insidioso, difícil de provar e combater.

Por isso, cabe tão bem a pergunta da campanha Diálogos Contra o Racismo - Pela Igualdade Racial: onde você guarda seu racismo? Complemento com mais uma: o que você tem feito para não deixá-lo de herança para seus filhos?

*Esta matéria é parte integrante da Revista Fórum, edição 94, de janeiro de 2011, em circulação nas bancas. Para assinar acesse - http://www.publisherbrasil.com.br/revistaforum/. Para conhecer acesse http://www.revistaforum.com.br/

Fonte: Revista Fórum

09/02/2011

HIV/Aids: Combate ao preconceito - Maria Emerenciana Raia *

"A Aids não é mortal. Mortal somos todos nós" (Herbert de Souza, o Betinho).
         Em 1988, a Organização Mundial da Saúde - OMS, instituiu o dia 1º de dezembro como o Dia Mundial da Aids. Com o passar dos anos e o avanço no conhecimento da doença, a data tornou-se o Dia Mundial de Combate ao HIV. Muito mais que o combate à doença, é necessário uma luta contra o preconceito. O portador do vírus HIV ainda é marginalizado, tanto pela família, quanto pela sociedade. Poderíamos fazer uma comparação entre os portadores do HIV hoje e os leprosos no tempo de Jesus. O Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids) afirma que há mais de 6.800 novas contaminações pelo vírus HIV no mundo todos os dias e mais de 5.700 mortes diárias em virtude da doença.

De 1980 a junho de 2009, foram registrados 544.846 casos no Brasil, de acordo com o Departamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis, Aids e Hepatites Virais, do Ministério da Saúde. Durante esse período, mais de 200 mil mortes aconteceram em decorrência da patologia. O Boletim Epidemiológico Aids/DST de 2009 indica que 8.157 homens e 5.501 mulheres receberam o diagnóstico no país, sendo que a maioria tem entre 40 e 49 anos. Mas, na comparação entre 2008 (20.744 em homens, e 13.733, em mulheres) e 2007 (20.496 em homens e 13.411, em mulheres), a ocorrência tem se mantido estável.

A razão de sexo (número de casos em homens dividido por número de casos em mulheres) diminuiu consideravelmente do início da epidemia para os dias atuais. Em 1986, era de 15 casos em homens para cada um em mulheres. A partir de 2003, estabilizou-se: para cada 15 diagnósticos em homens, há dez em mulheres. O que chama a atenção é que, entre 13 e 19 anos, o número é maior entre as meninas: dez contra oito em meninos. O que comemorar então no dia 1º de dezembro? Não se trata de comemoração, mas sim, de conscientização. Os portadores do HIV são nossos irmãos e irmãs, e por isso merecem respeito. Muitos sofrem mais com o preconceito, do que com os efeitos da doença.

Casas de Apoio
Os missionários da Consolata assumiram oficialmente, em 2008, a causa dos portadores do vírus HIV como "missão" na cidade de São Paulo, mas, já em 1991, padre Valeriano havia fundado o Lar Betania. As Casas de Apoio se tornam novos lares para os portadores do vírus. Não se trata de depósitos de seres humanos que esperam a morte. Mesmo no começo da epidemia, quando ainda não existiam os remédios, nas Casas de Apoio se promovia a vida em plenitude, dando esperança e coragem para vencer. Os objetivos das

Casas sempre visaram a recuperação da autoestima, da dignidade humana e divina dos moradores, em vista de uma reinserção plena no âmbito social com os seus direitos humanos respeitados. Elas continuam sendo um espaço físico de amparo e segurança, um ambiente familiar com características próprias onde a acolhida, a solidariedade, o respeito e a partilha garantem um relacionamento socioafetivo indispensável para uma recuperação plena. São quatro Casas que oferecem abrigo, acolhida e apoio: Lar Betania, para adultos, mantida pelo IMC e Casa Siloé, Lar Suzanne e Vila Vitória, para crianças, adolescentes e jovens, mantidas pela Sociedade Padre Costanzo Dalbésio. Há mais de dez anos elas existem, e já ajudaram dezenas de crianças, adolescentes, jovens e adultos a sobreviverem e a adquirirem autoestima suficiente para enfrentarem a sociedade.

Um dia específico de combate ao HIV serve para nos lembrar que a luta contra este vírus é diária, importante, e nunca deve ser negligenciada. Porém, esta data deve também nos ensinar que o combate ao preconceito é eterno. n

* Maria Emerenciana Raia é jornalista e editora da revista Missões. Publicado na edição Nº09 - Novembro 2010 - Revista Missões.

Fonte: Revista Missões

07/02/2011

Nossos avós faziam sexo melhor que nós - Luiz Felipe Pondé

Neste podcast, Pondé menciona uma cena da terceira temporada do seriado de TV americano “The Big Bang Theory“, onde o casal principal – Leonard e Penny – discute sua relação.
A ação fez Luiz Felipe Pondé lembrar da necessidade que as pessoas têm de sempre falar sobre a vida sexual, contar suas preferências e discutir “os segredos da cama”. Segundo ele, nossos avós faziam sexo melhor que nós.
Se existe uma coisa onde muita conversa e muita explicação não funcionam é na vida sexual“, afirma o filósofo. (para OUVIR o podcast).

06/02/2011

Outro mundo possível: Fórum Social Mundial 2011 começa no próximo domingo em Dacar - Karol Assunção

Depois de quatro anos, o Fórum Social Mundial (FSM) volta ao continente africano. Desta vez, a capital senegalesa, Dacar, terá a oportunidade de sediar o evento que reunirá organizações e movimentos sociais de 123 países. A abertura oficial acontecerá no próximo domingo (6) com uma marcha que sairá da Radio Television Senegalaise (RTS) rumo a Universidade Cheikh Anta Diop, local onde ocorrerão as ações do Fórum.

Quase mil atividades autogestionadas estão programadas para acontecer até o dia 11. Duas delas convocadas pela Agência Latino-Americana de Informação (Alai) para o dia 8 de fevereiro: "A política como desafio: movimentos para os novos paradigmas de mudança”, que ocorrerá de 16h as 19h; e "A informação alternativa a serviço das mobilizações políticas e sociais”, a qual será divida em três mesas de debate, de 9h as 19h.

Como todos os anos, além das atividades autogestionadas; assembleias e celebrações também farão parte dos seis dias de programação do FSM. Destaque para o segundo dia de Fórum, dedicado ao continente anfitrião, com o Dia da África e da Diáspora. A ideia é que as resistências e as lutas dos povos do continente africano sirvam de exemplo para as demais populações do mundo.

De acordo com a organização do evento, três questões nortearão as discussões do FSM 2011: a situação mundial e a crise; a situação dos movimentos sociais pela cidadania; e o processo dos fóruns sociais mundiais. A primeira diz respeito a quatro dimensões da crise do capitalismo: a social, a geopolítica, a ecológica e a ideológica. Na ocasião, também haverá espaço para aprofundar o debate sobre a crise de civilização, apresentada durante o FSM 2009, em Belém, no Pará.

Já nos debates sobre a situação dos movimentos sociais, o foco será as lutas pela cidadania e pelo acesso aos direitos. Dentro dessa perspectiva, dois pontos serão enfatizados: os direitos ambientais na preservação do planeta; e os direitos de migrantes que ultrapassam as fronteiras, com destaque também para as diásporas.
A terceira questão, que trata sobre os fóruns sociais mundiais, apontará a importância do Fórum como lugar estratégico de encontro de movimentos e organizações de todo o mundo. Além disso, ressaltará o valor e a força dos fóruns sociais descentralizados na construção dos FSMs e de grandes mobilizações.

Atividades estendidas

A distância não impedirá aqueles que não puderem ir a Dacar de participar do Fórum. A partir de amanhã (4) até o dia 13, pessoas e organizações de várias partes do mundo podem preparar uma ação à distância e participar das atividades de "Dacar Estendida” do FSM 2011 mesmo sem estar presente fisicamente na capital senegalesa.
Os interessados devem enviar um correio eletrônico para facilit.espaco.fsm.extendido@gmail.com informando: local, data, horário, organização proponente, pessoa de contato, tema e formato da atividade.
Para mais informações, acesse: http://fsm2011.org/br

Fonte: Adital

Paróquia celebra festa de São Brás em Salvador na Bahia - Jeane Maria de Jesus *

Os missionários da Consolata junto com milhares de fiéis comemoraram nesta semana o dia de São Brás (dia 3), padroeiro dos males da garganta. Em Salvador, a festa acontece há décadas de anos, na Paróquia de São Brás, no bairro de Plataforma. A celebração começou ontem com o oficio de Nossa Senhora às 05h de madrugada e missa às 06h e foi se estendendo por todo o dia com outras missas às 10h e às 19h depois da procissão com a imagem de são Brás.
A história de São Brás teve início no século III, contou dom Josefa, bispo auxiliar de Salvador, que presidiu a missa festiva das 10h, junto com os missionários Michael Mutinda, Jacques Kuagala e padre Stephen Murungi (pároco de São Brás). A Igreja celebra no dia 3 de fevereiro a festa de São Brás, um santo venerado tanto no Oriente como no Ocidente e muito conhecido pelo testemunho e sua proteção das doenças da garganta. São Brás nasceu na Armênia no seio de uma família pomposa, de pais nobres, recebeu educação cristã e foi ordenado Bispo quando era ainda muito jovem. Como médico usava os seus conhecimentos para resgatar a saúde do corpo, mas também a da alma, pois se ocupava da evangelização dos seus pacientes.
       Este santo é conhecido como protetor da garganta, porque ao se dirigir para o martírio foi-lhe apresentada uma mãe desesperada com o seu filho que estava sufocado por ter uma espinha de peixe entalada na garganta. Diante desta situação o Santo em Deus curou milagrosamente a criança. Já processado e condenado, São Brás enfrentou muitas torturas sem trair a fé em Jesus, sendo degolado no ano 316. Depois disso, a história se espalhou, contou o bispo.
         Dona Lucia, catequista da paróquia, confirmou as palavras do bispo dizendo que ouve muita gente falar que se sentiu curado depois da benção. Dona Tina mora em Nazaré e todos os anos participa da missa. Reza todos os dias para São Brás e faz questão de participar da primeira missa no final de cada mês em homenagem ao santo.
       Comentando as leituras do dia, dom Josefa disse que "a celebração de hoje nos propõe um compromisso alegre e decidido com a construção do Reino de Deus. O primeiro passo é o acolhimento em nós dessa boa notícia, apropriando-nos dela. Fazer nosso o "sonho" de Deus: um mundo novo de justiça e paz. Para isso precisamos fazer-nos pobres no sentido das bem-aventuranças, pobres de Deus, pobres do Reino. Daí vem os outros passos: lutar pela justiça, construir a paz, promover a dignidade humana", concluiu o bispo.
A benção
       No final de cada missa os fiéis receberam a benção da garganta. Os padres e o bispo colocavam duas velas na garganta enquanto proferiam a oração. Após a missa das 10h, os fiéis se reuniram no salão paroquial para um almoço.

*Jeane Maria de Jesus, membro da Pastoral de Juventude, na Paróquia são Brás, Salvador, BA.

Fonte: Pastoral de Juventude, na Paróquia são Brás

“On Death and Dying“

The idea of death makes one aware of one's life, one's vital being – that which is impermanent and will one day end.   When ...