Talvez começando pelo radical da palavra - espírito. Espírito, segundo definição do Dicionário Aurélio, é a parte imaterial do ser humano, a alma. E alma? Qual a definição para alma? Ainda, utilizando o Dicionário Aurélio, temos: Princípio de vida. Entidade a que se atribuem, por necessidade de um princípio de unificação, as características essenciais à vida e ao pensamento.
Princípio espiritual do homem concebido como separável do corpo e imortal. O conjunto das funções psíquicas e dos estados de consciência do ser humano que lhe determinam o comportamento, embora não tenha realidade física ou material; espírito. Sede dos afetos, dos sentimentos, das paixões.
Sentimento, generosidade, coração. Condição primacial. Essência. Grosseiramente, podemos dizer então, que espiritualidade é a atividade através da qual trabalhamos ou desenvolvemos o nosso espírito, a nossa alma. As pessoas criaram inúmeras formas de trabalhar o espírito. Existem hoje incontáveis religiões, crenças, seitas, filosofias, magias, sociedades secretas, organizações e até ciências que tratam do espírito.
O mercado, por exemplo, é uma das atividades mais populares no momento e, mais do que uma atividade, ele é a instituição social reguladora das demais relações. Sendo a instituição central das sociedades, começa a perpassar, praticamente, todos os espaços da vida quotidiana.
Assim se fala de mercado de trabalho, de capitais, de alimentos, da droga, mercado matrimonial, religioso e de bens simbólicos. Dentre as religiões, os crentes têm conquistado cada vez mais adeptos e espaços nos meios de comunicação. Enfim, há lugar para todos. Basta escolher. O bom cristão escolhe o seguimento de Jesus; viver segundo os desígnios do espírito, enquanto o bom "mercadolista" escolhe a mística que move os homens concretos dentro do sistema de mercado. Já dizia E Durkhein que, "não há religião sem comunidade (igreja)". Isto que dizer que a religião requer relações de reciprocidade, pois sobre estas relações se constrói sempre a comunidade, entre comunidade e religião há uma afinidade estrutural e uma conaturalidade histórica. O sistema de mercado com a sua religião de mercadoria e a mercantilização do sagrado marca a nova comunidade que é a sociedade moderna.
A religião do mercado tem os seus comportamentos e regras. Aportaremos simplesmente algumas pistas da espiritualidade da religião do mercado:
1.O mercado é ponteciador de desigualdades; o fraco é sujeito do forte, e assim, o mercado é um produtor de vítimas.
2.O mercado dentro da ordem capitalista produz vida para pequena porção de nações e desestruturação social e morte para as grandes maiorias da humanidade.
3.O dogma fundamental é: "o dinheiro tudo pode, move o céu e a terra".
4. A propaganda tem a função de uma evangelização. Pessoas felizes são associadas às mercadorias.
5.As mercadorias são sacramentos e enche de energia e de vida, por exemplo, tomar coca-cola ou fumar cigarro Marlboro.
6.A autentica catequese do mercado é feita na didática de persuasão. Moças bonitas são associadas aos produtos que só o dinheiro é capaz de criar e tornar acessíveis.
7.O culto dominical são os programas de milhões de audiência.
8.A grande festa anual é o natal. É a celebração das mercadorias nos shoppings enfeitados e na ceia natalina.
9.Os templos são os bancos sedes.
10.A romaria é o espaço mais carregado de significação; os grandes shoppings e cidades do consumo, como Manaus, Disney World, Miami, paris etc.
11.Os sacerdotes são os banqueiros e financistas.
12. A ética principal é o interesse pessoal que constitui a norma geral de comportamento.
Assim, se constrói e produz a religião oficial de mercadoria com as doze normas ou "pilares apostólicas" da espiritualidade do mercado. Essa religião proporciona felicidade a todos os que a consomem. Os atributos da divindade são dados às mercadorias. A elas se adjudicam características salvíficas.
É no contanto com o novo sagrado que as pessoas se sentem mais fortalecidas para enfrentar o seu dia-a-dia de competição e concorrência no mercado. A mística que move as pessoas no capitalismo é ganhar dinheiro para ganhar mais dinheiro; comprar mais, comprar mais para comprar mais. É no consumo, na aquisição de novas mercadorias que as pessoas são reconhecidas como gente e, por isso, se sentem mais gente. O ter torna a condição para ser. Numa sociedade mercadolista, a pessoa tem a sua dignidade reconhecida nas relações mercantis, no mercado.
Os pobres são marginalizados exatamente pela sua impossibilidade de acesso ao mercado. E essa é a bem aventurança de quem é membro da religião da mercadoria - viver segundo os desígnios e a espiritualidade do mercado. Estamos diante de gestos e atitudes que o ser humano até hoje só reservava ao supremo e à divindade e a nenhuma outra criatura. Por isso o mercado é idolátrico. Sua característica é gerar frustrações e a partir daí exigir vidas humanas que soam sacrificadas na busca da felicidade material. Precisamos resgatar o mercado como realidade humana, portanto, eminentemente social.
As relações de mercado são relações sociais que regem a produção, distribuição e consumo de bens e serviços. Sendo relações sociais, o social e não o individual deve comandar as prioridades e orientar a lógica de sua implementação histórica não as demandas do mercado, muitas vezes artificiais, mas as necessidades da vida humana em sua realização concreta, material, pessoal, social, cultural e espiritual.
O que Jesus nos diz é muito sério! E justamente por isso deve ser encarado com seriedade: "Ninguém pode servir a dois senhores. Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro".
(Mt. 6,24). E esperamos que todos possamos cantar com o Wagner Roberto:
"Deus Procura"
Deus procura homens de fé
que mesmo em meio à maré
continuem a remar
Deus procura aqui obreiros
Que não pensem no dinheiro
mais que as almas possam amar
Homens fortes corajosos
Destinados, valorosos
Que prossigam até o fim
Entre vales, pelos montes
Oxalá que Deus encontre
Hoje aqui alguém assim..."
Autor: Michael Mutinda *
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