24/09/2010

As Cores do Céu - Felipe Witt Matula*

Olhar para o céu em um dia nublado pode ser mais do que uma simples constatação de que irá chover. Quando se enxerga além das nuvens é possível perceber uma miscelânea de cores. Assim como as cores se misturam com naturalidade, no céu, elas deveriam se misturar por terra, com as pessoas de diferentes etnias, principalmente entre brancos e negros.
      O preconceito ainda existe dos dois lados. Mais do que complicada, a questão é delicada e por mais que existam campanhas alertando e condenando o preconceito, ele ainda está presente na sociedade, basta andar nas ruas e senti-lo. O negro que às vezes é contratado por uma empresa apenas para mostrar que naquele local não existe preconceito, ou o branco que é enxergado pelo negro como preconceituoso antes mesmo de trocar qualquer palavra com ele. São inúmeras situações que tornam a questão difícil de ambos os lados.
      O azul se mistura com o branco, que forma um lindo horizonte ao transformar o céu em uma figura inusitada ao se unir com o cinza. As nuvens são apenas detalhes nesse céu que nos dá a chance de formar uma sociedade mais justa e unida. A beleza que se forma no céu pode se formar aqui, quando um ser humano enxergar além da cor e torná-la uma só: a cor universal.
      Outro dia escutei um fato preocupante, por dois motivos que parecem piorar a cada dia no Brasil. Um conhecido contou que foi assaltado, lhe roubaram o celular e o dinheiro. Pior que a violência que ele sofreu, foi a violência que ele cometeu ao relatar o fato "Você acredita que o sujeito que me assaltou era branco?". Na mesma hora, escutei e refleti sobre o nosso país. Nós não podemos ser assaltados por negros, mas podemos ser roubados todos os dias por homens trajando ternos em Brasília? Nossos valores estão trocados e o preconceito está embutido na sociedade, para mudar isso será preciso rever todo o sistema educacional brasileiro, afinal, a raiz do problema só pode estar na educação, desde quando a criança interage com a outra na infância.
      Por que é possível enxergar uma criança branca brincando com uma criança negra? A resposta não é simples, mas é possível afirmar que na infância a criança ainda não entende o mundo da maneira que a maioria das pessoas mais velhas entende (ou não entende). A inocência e a vontade única e exclusivamente de ser feliz é que transforma a cena de duas crianças de diferentes cores brincando em um exemplo para os adultos, que muitas vezes deixam de fazer uma nova amizade por apenas enxergar a cor da outra pessoa. Dependendo da família na qual a criança crescer, ela irá absorver as opiniões dos familiares que a cercam. Por sorte, a criança nascerá em uma família sem preconceitos, mas hoje é muito difícil que ao menos um membro não tenha um tipo de preconceito dentro de si.
      Para os que ainda não aceitam um negro ou um branco, basta lembrar que dentro de cada ser humano o sangue que corre não faz parte somente do presente, mas também do passado. Quarenta e cinco por cento da população brasileira é de descendência africana, ou seja, a interação entre uma mulher branca européia e um homem negro africano ou vice versa originará mais um descendente da cor universal, a cor que todos deveriam conhecer e nunca rejeitar. É impossível negar que todos somos uma grande mistura de etnias. Por mais distante que possa parecer, todos temos sangue branco e negro.
      As cores do céu mostram que não somente um preconceito deve acabar, mas todos existentes em nossa sociedade devem ter um fim, para que seja possível viver em um mundo onde as pessoas se conheçam mais, se respeitem com reciprocidade e descubram algo além da cultura que as cerca.
      É possível o céu que têm tantas cores estar dentro de nós? Basta olharmos para o nosso interior e descobrir quantas cores temos dentro do nosso espírito, nas nossas ações e na nossa mente, para descobrir que ao olhar para o céu olhamos estaremos olhando para dentro de nós mesmos.


Fonte: *É estudante de jornalismo em SP.

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