04/10/2010

É POSSÍVEL CONHECER OUTRAS PESSOAS?

           Ao longo da história da humanidade, um número muito grande de pessoas buscou a compreensão e a explicação do “ser” humano, na tentativa de compreender como, e por que, o homem é como é, sente como sente, vive como vive.  Surgiram, e ainda surgem em nossos dias, inúmeras teorias que tentam explicar o ser humano. Algumas delas conservam a dualidade questionada no século XVII, outras tentam ser mais “atuais”. Ambas esbarram num problema que vai além dessa diferença do ponto de vista filosófico.  
É interessante notar que, nós, enquanto pessoas interessadas em conhecer as diversas concepções sobre o ser homem e que lidamos com pessoas no nosso dia a dia profissional, muitas vezes, sem nos darmos conta, somos profundamente pretensiosos e até mesmo onipotentes. Afirmamos que sabemos sobre as pessoas, sobre os seres humanos. Dizemos isso como se acreditássemos que algumas ideias lançadas sobre o homem, há séculos atrás, ou até mesmo há uma década, pudessem ter validade para se compreender este outro que está diante de nós.
Ai vem a pergunta: é possível conhecer outras pessoas? As ideias de CODE[1] são de um modo particular úteis e vale a pena considerá-las. Consegue-se distinguir oito aspectos da atividade cognitiva envolvidos no conhecimento de outras pessoas que nos dão um tipo paradigma de conhecimento muito diferente do tradicional:
1.  Existe um contraste entre as qualidades multidimensionais e de multiperspectivas de nosso conhecimento de outras pessoas e a simplicidade rígida do paradigma padrão de conhecimento; isto levanta uma questão para Code: por que elevamos um tal paradigma ‘standard’ ao status de paradigma exemplar?
2.   Conhecer outras pessoas exatamente pelas flutuações e pelas contradições da subjetividade, é um processo de comunicação sempre a caminho e interpretativo. Nunca pode ser fixado ou completado; e a fixação é no máximo, uma fixação num fluxo.
3.   Por causa do dito acima, generalizações – nem falando dos princípios universais – é uma tarefa arriscada. O conhecer outrem nos mantém em alerta quanto ao nosso conhecimento: a maior ou menor qualidade deste conhecimento constantemente confirma a necessidade de suspender ou de revisar o juízo.
4.  Alem do mais, compromissos ou envolvimentos pessoais e políticos não podem ser deixados de lados como neutros; neles exigem que as pessoas se conheçam entre si muito bem para poderem ir adiante.
5.  As posições de conhecedor e conhecido não são fixas: os dados do que se conhece de uma pessoa estão abertos a negociação entre o conhecedor e o conhecido, onde as posições de sujeito e de objeto estão, pelo menos em principio, permanentemente em mudança.
6.  Sob tais condições, nem a concepção de si e nem a concepção que o conhecedor tem (do outro) podem ser tidas por absolutas, a autoridade ou a referencia ultima.
7.  O processo de conhecer outras pessoas requer um constante aprendizado: como estar com elas, como corresponder-se com elas e como agir em relação a elas.
8.  O fato intrigante e central quanto ao processo de conhecer pessoas – e é a razão por que ele gera luzes para os problemas filosóficos do conhecimento – é que mesmo se alguém puder conhecer todos os fatos sobre outrem, ele ainda assim não o conhece como pessoa que ele é.




[1] SAMPSON, E.E. Celebrating the Other. New York : Harvester Wheatsheaf, 1993, .p. 104. Cf. CODE, L. What can she know? Feminist Theory and the Construction of Knowledge. Ithaca : Cornell University Press, 1991, p. 37-40.

Fonte: São Miguel Arcanjo

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