Não sempre que precisamos explicar algumas coisas que são claras e visíveis; embora, outras parecem, mas não são. Um exemplo clara é a afirmação:“o amor como fim e não como começo...” Por que sempre digo assim:
O amor corre mais rápido do que os acontecimentos que estão no seu caminho. Na vigência do amor, as pessoas vão até o fim das outras muito rapidamente, passando por cima, ambas, de aspectos, maneiras de ser e comportamentos do ser amado.
O amor é uma corrida apressada até o fim e o mais alto do outro. Só depois de, se lá chegar, e viver, e ser, e gozar, e sentir, começam os percursos e percalços da volta, retorno às partes que se tornaram retardatárias, mas existem e se movimentam.
É como o curso de um rio que desemboca no próximo e reflui. Na vigência explosiva ou hipnótica do amor, chega-se logo, e com deslumbramento, ao fim do curso. Aí, há o refluxo. A água volta à origem e no retorno vai passando por partes que ficaram submersas, invadidas ou esquecidas quando as águas passaram aceleradas e torrenciais.
O amor é um começo pelo fim, no qual o meio vem sempre depois com as suas insuperáveis leis. Por isso, corre mais rápido do que as veredas que estão no seu caminho. A vivência de amor é difícil e dolorosa porque significa voltar, depois de ter chegado ao fim, ao auge, ao máximo.
O amor verdadeiro e duradouro é o preço desse retorno sobre si mesmo e a complementação de tudo o que estava no caminho e foi superado pela velocidade e intensidade das águas-paixão. Essa volta vai revelando, dia a dia, momento a momento, as margens de cada um que ficaram esquecidas ou deixadas para depois na passagem turbilhonária e deslumbrante da paixão. Nessas margens estão os mais lindos recantos de cada ser e se escondem aspectos menores e restritivos, os defeitos e imperfeições.
Difícil, portanto, não é a chegada ao fim: é viver os vários refluxos, pois neles estão escondidas as depressões suficientes (ou não) para terminar o amor. Ao mesmo tempo, o amor cresce, na medida em que o refluxo permite descobrir, com mais calma, as partes lindas de cada um, os remansos, as terras fecundas do afeto, as voltas sinuosas, os jardins de paz e de cada existência. As partes férteis de cada ser.
É quando o amor deixa de ser muito bom, para ser mútuo bom. E o amor só é muito bom quando, depois de ter chegado ao máximo (no sentido de ápice, extremo), volta-se sobre si mesmo num refluxo enriquecedor e aumenta depois que passa a ilusão.
O amor é o objetivo último de quase toda preocupação humana; é por isso que ele influencia nos assuntos mais relevantes, interrompe as tarefas mais sérias e por vezes desorienta as cabeças mais geniais.