A CARTA AOS CORINTIOS.
Levantamento de Pontos Principais.
O conteúdo da 1.ª Carta aos Coríntios pode resumir-se nos seguintes pontos:
Prólogo: 1,1-9;
I. Divisões na igreja de Corinto: 1,10-4,21;
II. Escândalos na igreja: 5,1-6,20;
III. Resposta a questões concretas: 7,1-11,1;
IV. A Assembleia Litúrgica: 11,2-34;
V. Os carismas: 12,1-14,40;
VI. A ressurreição dos mortos: 15,1-58;
Epílogo: 16,1-24.
• Paulo sai de Atenas para Corinto. Por volta de 50 d.C.
• Comunidade de melhores aspetos da dinâmica cidade comercial.
• Seus membros eram dedicados e entusiásticos e não hesitaram em aceitar a responsabilidade de pôr em pratica o que o cristianismo significava para eles.
• Mostraram-se a igreja mais exasperante com a qual Paulo teve de lidar.
• Paulo e seus companheiros Timóteo e Silvano (2 Cor. 1, 19)
• São trabalhadores.
• Gostam de lazer – cidade de Ásia e Macedônia
• Fazem negócios – para lucro.
• Santuário de Posêidon – templo, teatro e estado.
• Cenário dos jogos ístmicos.
• Paulo trabalha com leigos – Priscila e Áquila; Silas e Timóteo.
• Conversões – 1 Cor. 1, 14 (ex. crispo)
• Evangelização – uma cuidadosa estratégica missionária. A casa é o lugar próprio. Independência de trabalho (1 Cor. 9, 1-18). Aceitação de ajuda dos fieis, mas de maneira limitada.
• Comunidade: 1 Cor. 1,26
Sábios - com fama de prudência e moderação que demonstram sólida capacidade critica na política ou no comercio.
Os poderosos – os influentes.
Os ‘de família distinta’ – os nascidos na aristocracia da riqueza.
Escravos (1 Cor. 7, 21) – com garantia de casa e comida.
• Problemas:
Apelo a tribunais pagãos – 6,1-11
Frequentação de prostitutas – 6, 12-20.
Casamento e sexo – 7
Participação em refeições de templos pagãos – 8- 10
Idolatria – 6, 10 -11;8,7; 12,2.
• Diferenças na comunidade:
Grupo de Apolo, de Paulo e de Cefas. (1 Cor. 1,12)
Contra a teologia especulativa (1 Cor. 1,1)
Retórica (3,3-4)
Liberdade pessoal e comunitária (1 Cor. 5, 3-5)
Transformação pela graça ( 1 Cor. 1,17)
Corpo de cristo (1 Cor. 1,13; 12,27)
Ministério das mulheres e defesa explicita da completa igualdade das mulheres – 1 Cor. 3,2; 14,20; 11,11-12.
• Cartas a Corinto.
Paulo escreveu mais cartas para esta igreja que a qualquer outra igreja.
Novo testamento contém só duas cartas a Corinto:
1ª – Pré-canônico – 1 Cor. 5, 9
E a carta dolorosa – 2 Cor. 2, 4
• A igreja de Corinto era formada de pagãos de diversos graus do meio da escala social. Só faltam o topo (grandes magnatas) e a parte inferior (escravos do campo) dessa escala. Os judeus eram a minoria, mas pelo menos dois (Crispo e Sóstenes) se destacavam no grupo.
REDAÇÃO.
Paulo escreveu esta Carta em Éfeso, durante a terceira viagem missionária, para remediar os abusos, nomeadamente as divisões e escândalos de que teve conhecimento por mensageiros vindos de Corinto (1,11), e para responder às questões que lhe foram postas por escrito (7,1). Estas circunstâncias explicam o carácter não sistemático da Carta, com a única preocupação de enfrentar as necessidades e resolver as dúvidas dos seus correspondentes.
Ao longo destas páginas, desenha-se o retrato fiel de uma comunidade viva e fervorosa, mas com todos os problemas resultantes da inserção da mensagem cristã numa cultura diferente daquela em que tinha sido anunciada anteriormente. As questões abordadas derivam em grande parte do fenómeno da inculturação do Evangelho em ambiente helenista. Paulo procura esclarecer, mostrando-se firme ao condenar os comportamentos inconciliáveis, mas compreensivo quando a fé não corre perigo.
Os cristãos de Corinto enfrentaram várias “tentações”: reduzir a fé cristã a uma sabedoria humana, diversificada à maneira das escolas filosóficas de então (1,10; 3,22); ceder aos imperativos de uma ética sexual, caracterizada, ora por um excessivo laxismo, ora pelo desprezo da carne, segundo as diferentes correntes filosóficas (5,1-3; 6,12-20; 7,1-40); continuar a observar as práticas cultuais do paganismo (cap. 8-13) e a sofrer a influência suspeita das refeições sagradas (11,21) e do frenesim delirante de certos ritos (12,2-3). Tiveram ainda dificuldade em conciliar o mistério fundamental da ressurreição dos mortos com as doutrinas dualistas da filosofia grega (cap. 15).
As soluções propostas estão marcadas pelos condicionalismos culturais de então e pelo concreto da vida; mas não se reduzem a mera casuística já ultrapassada, porque o génio de Paulo, mesmo quando desce a questões do dia-a-dia, sabe sempre elevar-se aos princípios fundamentais que lhes asseguram perenidade e oferecer-nos uma teologia aplicada ao concreto da vida cristã.
Daqui o interesse e a actualidade desta Carta: através dela, sentimos ao vivo o pulsar de uma comunidade cristã muito rica, a forte personalidade de Paulo, muito consciente das suas responsabilidades, e a presença constante do Ressuscitado que anima a comunidade e a tudo dá sentido.
18/04/2012
ECUMENISMO e Diálogo Inter-Religioso e o Problema das Seitas - Por Mike Mutinda
ECUMENISMO e Diálogo Inter-Religioso e o Problema das Seitas numa Entrevista com Padre Stephen Erastus Murungi*
INTRODUÇÃO.
O Ecumenismo, classicamente pensado é o movimento pela unidade das religiões cristãs, e o Dialogo Inter-religioso é o movimento visando à unidade das religiões cristãs com as outras religiões da humanidade. O dialogo inter-religioso tem o significado de ajuda na construção da nova humanidade, abrindo caminhos inéditos para o testemunho cristão, e promovendo a liberdade e a dignidade dos povos, estimulando a colaboração para o bem comum, ajudando a superar a violência motivada por atitudes religiosas fundamentalistas, educando os cidadãos para a paz e a convivência. (DA 239).
O ecumenismo propõe aos cristãos de instituições eclesiais diferentes buscar a unidade por outro caminho, a partir de outra concepção da igreja de Jesus cristo e com métodos diferentes. O movimento ecumênico empenhou-se até hoje em promover duas ações básicas: despertar a consciência dos cristãos sobre a urgência de recompor a unidade do povo cristão e buscar caminhos novos que levem as comunidades divididas à reconciliação.
A nossa entrevista tem a originalidade de apresentar, dentro de realidade africana, a realidade queniana na qual pertecemos, sobre o ecumenismo situando-nos no contexto da realidade religiosa e apontando posicionamentos relevantes, limites e desafios. Por limitação de distancia, aproveitamos a presença do nosso entrevistado no conselho regional dos missionários da Consolata. E para facilitar a nossa entrevista, escolhemos fazer algumas perguntas por escrita para o nosso entrevistado, que em resposta, decidiu fazer uma audiência oral no dia 20 de Outubro de 2009 às 15 horas na Casa Regional dos Missionários da Consolata, Jardim São Bento, São Paulo.
ENTREVISTA.
Existem em África possibilidades reais de diálogo inter-religioso? A possibilidade concreta de diálogo inter-religioso precisa de ser contextualizada tendo como pano de fundo a história da África, a partir do Sínodo de 1994: uma história caracterizada pela proliferação de sangrentos conflitos. Penso que terá sido precisamente isso a sugerir a escolha de centrar os trabalhos deste Sínodo nas questões de reconciliação, justiça e paz. Parece-me que é precisamente nesta opção que reside a possibilidade concreta de um diálogo inter-religioso, sobretudo na perspectiva do que João Paulo II chamava “diálogo da vida”. É um diálogo em que se testemunham reciprocamente os próprios valores espirituais e humanos, sustentando-se as pessoas mutuamente para os viver e assim edificar uma sociedade mais justa e fraterna (cfr.RMi 57). É claro que, se considerarmos reconciliação, justiça e paz, vemos que implicam um empenho partilhado e, neste sentido, parece-me que constituem âmbitos específicos de concretização do diálogo inter-religioso que, evidentemente, os bispos consideram possível para a África.
Quais são as religiões com as quais o cristianismo tem melhores relações, em África? É difícil dar indicações precisas a esse respeito, porque objetivamente a situação é muito variada. Basta pensar no mapa geográfico da África, com os países do norte do continente e os da África sub-sahara ou da África do Sul. Olhando para este mapa, do ponto de vista religioso, é claro que a presença dos cristãos em geral (e dos católicos em particular) varia nas diversas zonas do continente, assim como varia também a presença das outras tradições religiosas. Depois, há também que tomar em consideração que, na qualidade da relação com as outras religiões, incidem também outros fatores. Estou a pensar, por exemplo, nas diferentes legislações de cada país, nesta matéria. Devemos também tomar em consideração a própria história da evangelização: a África foi evangelizada em diversas fases, com diferentes métodos e metodologias. Atualmente, no que diz respeito a esta rede de relações do cristianismo, ou melhor, do catolicismo, com as outras religiões, existem outros dois fatores que podem tornar mais problemática a relação entre as várias tradições religiosas.
O primeiro fator é a difusão do radicalismo islâmico. Também aqui basta controlar um mapa: é inegável que este radicalismo se está a difundir-se no Corno de África, mas também na Nigéria, Sudão, Costa do Marfim, Guiné-Conakri, Níger, Mali, Togo, entre outros. Esta difusão torna possível a constituição de redes terroristas.
Um segundo fator é a difusão das seitas que muito dificilmente se podem definir “cristãs”: se o são, são no apenas como uma capa exterior. São seitas que se apresentam com uma oferta de bem-estar, naturalmente a alcançar mediante uma compensação, um bem-estar proposto aqui e agora.
Seria possível traçar brevemente um mapa do continente africano indicando as áreas geográficas em que se manifestam mais tensões ligadas à diversidade religiosa? Seria bastante difícil, porque os conflitos que ensangüentam a África têm diversas chaves de leitura: há casos de conflitos étnicos, clãs, tribalismo, senhores da guerra e, atualmente, também episódios de terrorismo. Portanto, é uma tarefa complexa identificar as causas; embora se pense que hoje em dia existe um fator – que, aliás, não é novo, senão nas formas – que é o das novas presenças coloniais. A África é rica de matérias primas que sustentam o desenvolvimento econômico de outros países como os Estados Unidos e a Europa e que são muito apetecíveis para as novas nações emergentes como a Índia e a China. Se quiséssemos analisar, por exemplo, a guerra na zona dos Grandes Lagos, encontrar-nos-íamos perante uma série de conflitos que são emblemáticos desta complexidade.
E então acontece por vezes que episódios de conflito violento, na aparência de caráter religioso, se verifiquem em contextos caracterizados por complexidades etno-tribais e pela presença de “confrarias” religiosos com interesses locais (estou a pensar no Sudão, mas também na questão do Darfur). Assim sendo, como individuar as áreas geográficas do continente africano em que se manifestam maiores tensões ligadas à diversidade de credos? Penso que há, em síntese, um indicador muito claro: as áreas onde mais facilmente surgem estas tensões são aquelas onde maior é o subdesenvolvimento, em contraste com riquezas naturais que não são utilizadas para o desenvolvimento interno. Esta situação de terrível subdesenvolvimento comporta uma maior possibilidade de penetração das seitas e dos movimentos fundamentalistas.
Existem na África casos positivos de relação entre cristianismo e Islã? Quando se fala das relações com o Islã, há que precisar que não é um mundo monolítico, mas sim complexo, um mundo que atualmente passa, no seu interior, por não fáceis dinâmicas de transformação. Portanto, há que compreender as relações com o Islã, no quadro do seu dinamismo atual, que apresenta também as marcas da intolerância religiosa. Depois, há que não esquecer também o variegado impacto político do Islã, que tantas vezes torna difícil o diálogo. Apesar de tudo, existem muitas experiências positivas, em que se verifica o chamado “diálogo da vida”. São experiências ligadas, por exemplo, ao âmbito caritativo e social.
Um exemplo interessante é o da “Rádio Sol Mansi”, da Guiné Bissau, em que se verifica uma colaboração concreta, quotidiana, de cristãos e muçulmanos, portando uma concretização do “diálogo de vida”. Observando a programação desta Rádio [católica], vê-se que existem programas tanto para os muçulmanos, como também para os evangélicos. E há também intervenções conjuntas de formação sobre temas da atualidade, por exemplo, a luta à sida, a promoção da mulher, a educação alimentar, o diálogo entre diferentes crenças.
E no diálogo ecumênico entre as Igrejas cristãs, em que ponto se está, na África? O diálogo ecumênico – na África como noutras partes do mundo – avança atualmente mais na linha do “diálogo de vida”, embora não faltem também casos de empenho em nível do pensamento Há luzes e sombras a marcar o inegável caminho já percorrido, que, positivamente, encontra uma expressão concreta em experiências partilhadas de oração: por exemplo, na celebração da Semana da Unidade dos Cristãos, mas também experiências de estudo. Significativa é a tradução da Bíblia nas línguas locais em colaboração com a Aliança bíblica, mas penso também nas experiências partilhadas de empenho caritativo e social.
Trata-se de um caminho a potenciar, porque há evidentemente sombras, superando obstáculos como certa desconfiança, rivalidade entre grupos, falta de tolerância e incompreensão recíproca. As raízes destes obstáculos encontram-se certamente na história anterior das relações entre as diversas comunidades cristãs, mas também, por outro lado, na freqüente falta de conhecimento da própria identidade e, sobretudo, da identidade dos outros. Portanto, as Igrejas e as comunidades eclesiais envolvidas no diálogo ecumênico na África hoje em dia enfrentam também os desafios que derivam da multiplicação descontrolada das seitas, que geram evidentes fenômenos de “transumância” religiosa. Trata-se de fenômenos que não se podem explicar apenas com a agressividade das seitas. À luz de tudo isto, creio que também na África, para prosseguir o diálogo ecumênico, se exige hoje mais do que nunca uma apropriada formação cristã.
Enfrentemos o tema das religiões tradicionais africanas: é possível conciliá-las com o cristianismo? E de que modo? Se “conciliar” significa criar uma religião “sincretista”, então essa conciliação não é possível, porque o cristianismo tem uma sua especificidade irredutível, que não é conciliável com outras experiências religiosas (penso no mistério salvífico Cristológico - Jesus Cristo plena realização da salvação e das promessas divinas). Mas se “conciliar” significa apenas reconhecer nas religiões tradicionais a presença de aspectos positivos – e, portanto salvíficos (os que, com categorias tradicionais, se chamam as “sementes do Verbo”) – tal conciliação é possível. Mestre, neste sentido, é o Concílio Vaticano II, que marca um momento de abertura ao mundo das outras tradições religiosas.
O Concílio adota uma linguagem positiva para falar da relação da Igreja com as diversas religiões, pondo em realce elementos comuns que podem favorecer um diálogo recíproco. As religiões tradicionais africanas constituem um húmus sócio-cultural de referência, também para os que já são cristãos, e, portanto também por isso impõe-se como necessário um discernimento que ponha em evidência os seus elementos positivos e negativos. Por outro lado, não há dúvida que a atenção às culturas tradicionais pode favorecer os processos de inculturação e de contextualização do cristianismo, desde que se recorde, porém que não há que mitizar as culturas tradicionais. Estas não existem em estado “puro”, até porque ao longo dos tempos sofreram modificações causadas, por exemplo, pelo encontro com outros universos culturais.
À luz de tudo o que se disse, pode-se considerar a África “um continente de esperança”? A África é mais do que um continente de esperança: é um continente onde já se vive uma transformação, por muito difícil que a consideremos. É um continente ferido, mas que, ainda assim, caminha. Nós, aqui no Ocidente, precisaríamos porventura de aprender a olhar para a África com estas “lentes”. A África não é só o continente da sida. É também a África do cinema, da literatura, e de tanta bela gente.
CONCLUSAO.
No final desta entrevista, sentimos que a fé nos garante a certeza sobre a realização da unidade crista. O nosso entrevistado fez nos entender que na áfrica, salvo as diferenças nos princípios, nos métodos e nos objetivos, ‘ecumenismo’ e ‘dialogo religioso’, por vezes se entrecruzam – principalmente quando se fortalece o ‘ecumenismo pratico’, ou ecumenismo na base, quando se prioriza a ação social como o principal testemunho da fé em um Deus criador e salvador, mais que o acordo doutrinal.
Onde o espírito da doutrina muitas vezes divide um coração realmente convertido para a fé no único e verdadeiro deus é fator de aproximação até mesmo com aqueles considerados mais distantes dos princípios do ecumenismo. Sustentado pelo Espírito da Verdade, o povo vive em seu conjunto e no corpo a corpo Ecumênico e Inter-religioso o senso da fé. (LG 12a)
INTRODUÇÃO.
O Ecumenismo, classicamente pensado é o movimento pela unidade das religiões cristãs, e o Dialogo Inter-religioso é o movimento visando à unidade das religiões cristãs com as outras religiões da humanidade. O dialogo inter-religioso tem o significado de ajuda na construção da nova humanidade, abrindo caminhos inéditos para o testemunho cristão, e promovendo a liberdade e a dignidade dos povos, estimulando a colaboração para o bem comum, ajudando a superar a violência motivada por atitudes religiosas fundamentalistas, educando os cidadãos para a paz e a convivência. (DA 239).
O ecumenismo propõe aos cristãos de instituições eclesiais diferentes buscar a unidade por outro caminho, a partir de outra concepção da igreja de Jesus cristo e com métodos diferentes. O movimento ecumênico empenhou-se até hoje em promover duas ações básicas: despertar a consciência dos cristãos sobre a urgência de recompor a unidade do povo cristão e buscar caminhos novos que levem as comunidades divididas à reconciliação.
A nossa entrevista tem a originalidade de apresentar, dentro de realidade africana, a realidade queniana na qual pertecemos, sobre o ecumenismo situando-nos no contexto da realidade religiosa e apontando posicionamentos relevantes, limites e desafios. Por limitação de distancia, aproveitamos a presença do nosso entrevistado no conselho regional dos missionários da Consolata. E para facilitar a nossa entrevista, escolhemos fazer algumas perguntas por escrita para o nosso entrevistado, que em resposta, decidiu fazer uma audiência oral no dia 20 de Outubro de 2009 às 15 horas na Casa Regional dos Missionários da Consolata, Jardim São Bento, São Paulo.
ENTREVISTA.
Existem em África possibilidades reais de diálogo inter-religioso? A possibilidade concreta de diálogo inter-religioso precisa de ser contextualizada tendo como pano de fundo a história da África, a partir do Sínodo de 1994: uma história caracterizada pela proliferação de sangrentos conflitos. Penso que terá sido precisamente isso a sugerir a escolha de centrar os trabalhos deste Sínodo nas questões de reconciliação, justiça e paz. Parece-me que é precisamente nesta opção que reside a possibilidade concreta de um diálogo inter-religioso, sobretudo na perspectiva do que João Paulo II chamava “diálogo da vida”. É um diálogo em que se testemunham reciprocamente os próprios valores espirituais e humanos, sustentando-se as pessoas mutuamente para os viver e assim edificar uma sociedade mais justa e fraterna (cfr.RMi 57). É claro que, se considerarmos reconciliação, justiça e paz, vemos que implicam um empenho partilhado e, neste sentido, parece-me que constituem âmbitos específicos de concretização do diálogo inter-religioso que, evidentemente, os bispos consideram possível para a África.
Quais são as religiões com as quais o cristianismo tem melhores relações, em África? É difícil dar indicações precisas a esse respeito, porque objetivamente a situação é muito variada. Basta pensar no mapa geográfico da África, com os países do norte do continente e os da África sub-sahara ou da África do Sul. Olhando para este mapa, do ponto de vista religioso, é claro que a presença dos cristãos em geral (e dos católicos em particular) varia nas diversas zonas do continente, assim como varia também a presença das outras tradições religiosas. Depois, há também que tomar em consideração que, na qualidade da relação com as outras religiões, incidem também outros fatores. Estou a pensar, por exemplo, nas diferentes legislações de cada país, nesta matéria. Devemos também tomar em consideração a própria história da evangelização: a África foi evangelizada em diversas fases, com diferentes métodos e metodologias. Atualmente, no que diz respeito a esta rede de relações do cristianismo, ou melhor, do catolicismo, com as outras religiões, existem outros dois fatores que podem tornar mais problemática a relação entre as várias tradições religiosas.
O primeiro fator é a difusão do radicalismo islâmico. Também aqui basta controlar um mapa: é inegável que este radicalismo se está a difundir-se no Corno de África, mas também na Nigéria, Sudão, Costa do Marfim, Guiné-Conakri, Níger, Mali, Togo, entre outros. Esta difusão torna possível a constituição de redes terroristas.
Um segundo fator é a difusão das seitas que muito dificilmente se podem definir “cristãs”: se o são, são no apenas como uma capa exterior. São seitas que se apresentam com uma oferta de bem-estar, naturalmente a alcançar mediante uma compensação, um bem-estar proposto aqui e agora.
Seria possível traçar brevemente um mapa do continente africano indicando as áreas geográficas em que se manifestam mais tensões ligadas à diversidade religiosa? Seria bastante difícil, porque os conflitos que ensangüentam a África têm diversas chaves de leitura: há casos de conflitos étnicos, clãs, tribalismo, senhores da guerra e, atualmente, também episódios de terrorismo. Portanto, é uma tarefa complexa identificar as causas; embora se pense que hoje em dia existe um fator – que, aliás, não é novo, senão nas formas – que é o das novas presenças coloniais. A África é rica de matérias primas que sustentam o desenvolvimento econômico de outros países como os Estados Unidos e a Europa e que são muito apetecíveis para as novas nações emergentes como a Índia e a China. Se quiséssemos analisar, por exemplo, a guerra na zona dos Grandes Lagos, encontrar-nos-íamos perante uma série de conflitos que são emblemáticos desta complexidade.
E então acontece por vezes que episódios de conflito violento, na aparência de caráter religioso, se verifiquem em contextos caracterizados por complexidades etno-tribais e pela presença de “confrarias” religiosos com interesses locais (estou a pensar no Sudão, mas também na questão do Darfur). Assim sendo, como individuar as áreas geográficas do continente africano em que se manifestam maiores tensões ligadas à diversidade de credos? Penso que há, em síntese, um indicador muito claro: as áreas onde mais facilmente surgem estas tensões são aquelas onde maior é o subdesenvolvimento, em contraste com riquezas naturais que não são utilizadas para o desenvolvimento interno. Esta situação de terrível subdesenvolvimento comporta uma maior possibilidade de penetração das seitas e dos movimentos fundamentalistas.
Existem na África casos positivos de relação entre cristianismo e Islã? Quando se fala das relações com o Islã, há que precisar que não é um mundo monolítico, mas sim complexo, um mundo que atualmente passa, no seu interior, por não fáceis dinâmicas de transformação. Portanto, há que compreender as relações com o Islã, no quadro do seu dinamismo atual, que apresenta também as marcas da intolerância religiosa. Depois, há que não esquecer também o variegado impacto político do Islã, que tantas vezes torna difícil o diálogo. Apesar de tudo, existem muitas experiências positivas, em que se verifica o chamado “diálogo da vida”. São experiências ligadas, por exemplo, ao âmbito caritativo e social.
Um exemplo interessante é o da “Rádio Sol Mansi”, da Guiné Bissau, em que se verifica uma colaboração concreta, quotidiana, de cristãos e muçulmanos, portando uma concretização do “diálogo de vida”. Observando a programação desta Rádio [católica], vê-se que existem programas tanto para os muçulmanos, como também para os evangélicos. E há também intervenções conjuntas de formação sobre temas da atualidade, por exemplo, a luta à sida, a promoção da mulher, a educação alimentar, o diálogo entre diferentes crenças.
E no diálogo ecumênico entre as Igrejas cristãs, em que ponto se está, na África? O diálogo ecumênico – na África como noutras partes do mundo – avança atualmente mais na linha do “diálogo de vida”, embora não faltem também casos de empenho em nível do pensamento Há luzes e sombras a marcar o inegável caminho já percorrido, que, positivamente, encontra uma expressão concreta em experiências partilhadas de oração: por exemplo, na celebração da Semana da Unidade dos Cristãos, mas também experiências de estudo. Significativa é a tradução da Bíblia nas línguas locais em colaboração com a Aliança bíblica, mas penso também nas experiências partilhadas de empenho caritativo e social.
Trata-se de um caminho a potenciar, porque há evidentemente sombras, superando obstáculos como certa desconfiança, rivalidade entre grupos, falta de tolerância e incompreensão recíproca. As raízes destes obstáculos encontram-se certamente na história anterior das relações entre as diversas comunidades cristãs, mas também, por outro lado, na freqüente falta de conhecimento da própria identidade e, sobretudo, da identidade dos outros. Portanto, as Igrejas e as comunidades eclesiais envolvidas no diálogo ecumênico na África hoje em dia enfrentam também os desafios que derivam da multiplicação descontrolada das seitas, que geram evidentes fenômenos de “transumância” religiosa. Trata-se de fenômenos que não se podem explicar apenas com a agressividade das seitas. À luz de tudo isto, creio que também na África, para prosseguir o diálogo ecumênico, se exige hoje mais do que nunca uma apropriada formação cristã.
Enfrentemos o tema das religiões tradicionais africanas: é possível conciliá-las com o cristianismo? E de que modo? Se “conciliar” significa criar uma religião “sincretista”, então essa conciliação não é possível, porque o cristianismo tem uma sua especificidade irredutível, que não é conciliável com outras experiências religiosas (penso no mistério salvífico Cristológico - Jesus Cristo plena realização da salvação e das promessas divinas). Mas se “conciliar” significa apenas reconhecer nas religiões tradicionais a presença de aspectos positivos – e, portanto salvíficos (os que, com categorias tradicionais, se chamam as “sementes do Verbo”) – tal conciliação é possível. Mestre, neste sentido, é o Concílio Vaticano II, que marca um momento de abertura ao mundo das outras tradições religiosas.
O Concílio adota uma linguagem positiva para falar da relação da Igreja com as diversas religiões, pondo em realce elementos comuns que podem favorecer um diálogo recíproco. As religiões tradicionais africanas constituem um húmus sócio-cultural de referência, também para os que já são cristãos, e, portanto também por isso impõe-se como necessário um discernimento que ponha em evidência os seus elementos positivos e negativos. Por outro lado, não há dúvida que a atenção às culturas tradicionais pode favorecer os processos de inculturação e de contextualização do cristianismo, desde que se recorde, porém que não há que mitizar as culturas tradicionais. Estas não existem em estado “puro”, até porque ao longo dos tempos sofreram modificações causadas, por exemplo, pelo encontro com outros universos culturais.
À luz de tudo o que se disse, pode-se considerar a África “um continente de esperança”? A África é mais do que um continente de esperança: é um continente onde já se vive uma transformação, por muito difícil que a consideremos. É um continente ferido, mas que, ainda assim, caminha. Nós, aqui no Ocidente, precisaríamos porventura de aprender a olhar para a África com estas “lentes”. A África não é só o continente da sida. É também a África do cinema, da literatura, e de tanta bela gente.
CONCLUSAO.
No final desta entrevista, sentimos que a fé nos garante a certeza sobre a realização da unidade crista. O nosso entrevistado fez nos entender que na áfrica, salvo as diferenças nos princípios, nos métodos e nos objetivos, ‘ecumenismo’ e ‘dialogo religioso’, por vezes se entrecruzam – principalmente quando se fortalece o ‘ecumenismo pratico’, ou ecumenismo na base, quando se prioriza a ação social como o principal testemunho da fé em um Deus criador e salvador, mais que o acordo doutrinal.
Onde o espírito da doutrina muitas vezes divide um coração realmente convertido para a fé no único e verdadeiro deus é fator de aproximação até mesmo com aqueles considerados mais distantes dos princípios do ecumenismo. Sustentado pelo Espírito da Verdade, o povo vive em seu conjunto e no corpo a corpo Ecumênico e Inter-religioso o senso da fé. (LG 12a)
As Novas Eclesiologias - Por Mike Mutinda
BATTISTA MONDIN. As Novas Eclesiologias. Uma imagem atual da Igreja. São Paulo, Edições Paulinas, 1984.
Introdução.
A imagem da igreja como sacramento é para obter uma idéia mais adequada da Igreja. O que é Sacramento: é uma realidade que age como sinal sensível e eficaz da graça, isto é uma realidade que ao mesmo tempo atua e manifesta a nova aliança, nossa salvação, a incorporação em Cristo, a inabitação do espírito santo, a identificação da divindade com a humanidade, a difusão do amor de Deus em nossos corações.
Os elementos específicos do sacramento que eram reservados aos sete sinais sacramentais (os sete sacramentos) - Significar e atuar a graça - encontram-se ainda antes de nos ‘sete sacramentos’, em Jesus Cristo e na Igreja.
Efetivamente, Cristo é a atuação visível de nossa salvação, de nossa comunicação com Deus, da identificação da divindade coma humanidade: é o próprio Deus feito homem. Na sua humanidade, Jesus é o sacramento de Deus. E a Igreja, pela presença de Cristo, possui em si uma estrutura sacramental; Possui uma visibilidade no espaço e no tempo, na historia, com a dupla dimensão de povo de Deus e de sua constitucionalidade jurídica e social; nela, seu corpo e sua esposa, Cristo permanece presente no mundo; Divindade e humanidade, sinal e ‘res’, visibilidade histórica e espírito santo não são a mesma coisa. Mas como em Cristo, as duas realidades não são separáveis; É a presença, através dos ministérios, da graça de Cristo na história pública da humanidade única.
Igreja, como sacramento é a fonte daqueles sinais eficazes da graça que a tradição qualificou como os ‘sete sacramentos’. Entre eles, dois ocupam um lugar privilegiado; O batismo – sinal visível à incorporação dos crentes ao corpo místico de Cristo. Passagem da morte à vida; escravidão à salvação. A Eucaristia – renova-se o mistério do sacrifício da cruz. Cristo congrega pelo seu poder a Igreja una, santa, católica e apostólica (LG 25).
Sacramento e Funções.
Segundo santo Tomás, as funções principais do sacramento são três:
1. Sinal comemorativo do passado (morte de Cristo).
2. Sinal ostensivo do fruto produzido em nós pela sua paixão – da graça,
3. Sinal profético ou anunciador da gloria futura.
Estas três funções são exercidas eminentemente pela igreja: é ela a comunidade que Conserva a ‘memória subversiva’; Continua a obra de salvação; e antecipa a atuação do reino de Deus. ‘A Igreja é, portanto, intrinsecamente, formalmente de natureza sacramental. ’
EDWARD SCHILLEBEECKX.
Teólogo belga, nascido em Amberes em 1914 e entrou para os dominicanos em 1934.
Sacramento é um ato de Cristo oferecido num ato da Igreja. É assim que se posiciona Edward Schillebeeckx. Para ele, sacramento ‘é um ato de salvação pessoal do próprio Cristo celeste na forma de manifestação visível de um ato funcional da Igreja’. Por isso, o sacramento por excelência (o ursakrament - sacramento raiz, expressão de Otto Semelroth) é Jesus Cristo. É claro que Jesus é muito mais que um sinal. Como vinca Yves Congar, Ele é ‘a epifania, a manifestação, a presença reveladora de Deus’.
A Igreja Sacramento da Humanidade de Cristo.
Toda teologia deve ser construída em chave sacramental visto que a revelação, (objeto da reflexão teológica) é essencialmente sacramento. Deus se encontra com o homem justamente desta maneira sacramental; Comunica-lhe a sua verdade e a sua graça e o chama à salvação.
‘A graça não nos alcança diretamente partindo do amor transcendental, trans-historico de Deus, mas partindo do homem Jesus. A ação da graça, a revelação, situa-se, portanto, no quadro de um comercio humano’ . Encontro de Deus e homem na maneira sacramental está em harmonia com as exigências da natureza humana.
O que é o homem? É um ser espiritual que está essencialmente ligado à corporeidade; não é nem um bruto, nem um anjo, mas um espírito encarnado, o qual deve receber tudo e tudo comunicar através do corpo, até a palavra de deus, a graça, a salvação. Por isso estas realidades sobrenaturais ‘não podem ser propostas ao nosso mundo terreno e histórico a não ser através de símbolos sacramentais’.
Sacramento principal e primordial é Jesus Cristo. Nele se realiza a dupla função da sacramentalidade: Descendente de transmitir a graça e a função ascendente de agradecimento a Deus. (Jesus como salvador do homem e adorador do pai – sacramento.)
Atos de Cristo – atos de pessoa divina- atos salvíficos do homem Jesus têm forca divina de salvação – aparece para nós sob forma terrestre, visível – são sacramentos.
O amor divino – maneira humana – sacramento.
Igreja – sacramento – ela é a representação visível, histórica, da redenção definitiva – é instituição de salvação, é sacramento.
Igreja – sacramento primordial: Sacramentum humanitatis Christi – Cristo sacramental e O sujeito dos sete sacramentos – da ação ministerial.
Dos sete, o que realiza o encontro mais íntimo e eficaz com Deus, é a eucaristia.
Não é somente a Igreja hierárquica, mas toda a comunidade leiga dos crentes que pertence a este sinal de graça, este sinal que fala e que doa, que é a Igreja.
Igreja, Sacramento Universal da Salvação.
A Igreja, ‘é sacramento da salvação, mas em virtude da sua união com Cristo, inteiramente a partir d'Ele e por Ele’. Ou seja, ‘Cristo e a Igreja são portadores da salvação em condições diferentes: Cristo é mediador como chefe e fonte; a Igreja não é senão um mistério desta mediação de Cristo’.
• O problema de ‘extra ecclesiam nulla salus’.
• Sacramento de salvação – sinal do que instrumento efetivo de salvação.
• Estar fora da Igreja não significa estar fora da salvação por que o horizonte da salvação abraça, efetivamente, toda a humanidade, visto que Deus a quis e a realizou para todos os homens.
• Igreja x reino de Deus.
• Salvação fora da Igreja – Ranher – cristianismo anônimo.
• A salvação é oferecida a todo mundo e está realmente operando, ainda que de maneira menos visível da que acontece no momento em que os homens se tornam povo de Deus.
• Salvação, presente em toda a humanidade, recebe na Igreja sua forma manifestativa completa, mas também com uma obscuridade por causa de nossa imperfeição humana.
• Torna-se na Igreja , uma epifania; perfeitamente visível. A Igreja é manifestação perfeita da ação salvifica da graça de Deus; Dom e ocasião de graça – Igreja.
• Para preencher as lacunas, a igreja, como sacramento universal de salvação é, por forca de sua própria essência, uma igreja verdadeiramente missionária, orientada para a missão: A si mesmo – um sacramento de si e Sacramentum mundi – fora da Igreja; esperança para tudo mundo.
Introdução.
A imagem da igreja como sacramento é para obter uma idéia mais adequada da Igreja. O que é Sacramento: é uma realidade que age como sinal sensível e eficaz da graça, isto é uma realidade que ao mesmo tempo atua e manifesta a nova aliança, nossa salvação, a incorporação em Cristo, a inabitação do espírito santo, a identificação da divindade com a humanidade, a difusão do amor de Deus em nossos corações.
Os elementos específicos do sacramento que eram reservados aos sete sinais sacramentais (os sete sacramentos) - Significar e atuar a graça - encontram-se ainda antes de nos ‘sete sacramentos’, em Jesus Cristo e na Igreja.
Efetivamente, Cristo é a atuação visível de nossa salvação, de nossa comunicação com Deus, da identificação da divindade coma humanidade: é o próprio Deus feito homem. Na sua humanidade, Jesus é o sacramento de Deus. E a Igreja, pela presença de Cristo, possui em si uma estrutura sacramental; Possui uma visibilidade no espaço e no tempo, na historia, com a dupla dimensão de povo de Deus e de sua constitucionalidade jurídica e social; nela, seu corpo e sua esposa, Cristo permanece presente no mundo; Divindade e humanidade, sinal e ‘res’, visibilidade histórica e espírito santo não são a mesma coisa. Mas como em Cristo, as duas realidades não são separáveis; É a presença, através dos ministérios, da graça de Cristo na história pública da humanidade única.
Igreja, como sacramento é a fonte daqueles sinais eficazes da graça que a tradição qualificou como os ‘sete sacramentos’. Entre eles, dois ocupam um lugar privilegiado; O batismo – sinal visível à incorporação dos crentes ao corpo místico de Cristo. Passagem da morte à vida; escravidão à salvação. A Eucaristia – renova-se o mistério do sacrifício da cruz. Cristo congrega pelo seu poder a Igreja una, santa, católica e apostólica (LG 25).
Sacramento e Funções.
Segundo santo Tomás, as funções principais do sacramento são três:
1. Sinal comemorativo do passado (morte de Cristo).
2. Sinal ostensivo do fruto produzido em nós pela sua paixão – da graça,
3. Sinal profético ou anunciador da gloria futura.
Estas três funções são exercidas eminentemente pela igreja: é ela a comunidade que Conserva a ‘memória subversiva’; Continua a obra de salvação; e antecipa a atuação do reino de Deus. ‘A Igreja é, portanto, intrinsecamente, formalmente de natureza sacramental. ’
EDWARD SCHILLEBEECKX.
Teólogo belga, nascido em Amberes em 1914 e entrou para os dominicanos em 1934.
Sacramento é um ato de Cristo oferecido num ato da Igreja. É assim que se posiciona Edward Schillebeeckx. Para ele, sacramento ‘é um ato de salvação pessoal do próprio Cristo celeste na forma de manifestação visível de um ato funcional da Igreja’. Por isso, o sacramento por excelência (o ursakrament - sacramento raiz, expressão de Otto Semelroth) é Jesus Cristo. É claro que Jesus é muito mais que um sinal. Como vinca Yves Congar, Ele é ‘a epifania, a manifestação, a presença reveladora de Deus’.
A Igreja Sacramento da Humanidade de Cristo.
Toda teologia deve ser construída em chave sacramental visto que a revelação, (objeto da reflexão teológica) é essencialmente sacramento. Deus se encontra com o homem justamente desta maneira sacramental; Comunica-lhe a sua verdade e a sua graça e o chama à salvação.
‘A graça não nos alcança diretamente partindo do amor transcendental, trans-historico de Deus, mas partindo do homem Jesus. A ação da graça, a revelação, situa-se, portanto, no quadro de um comercio humano’ . Encontro de Deus e homem na maneira sacramental está em harmonia com as exigências da natureza humana.
O que é o homem? É um ser espiritual que está essencialmente ligado à corporeidade; não é nem um bruto, nem um anjo, mas um espírito encarnado, o qual deve receber tudo e tudo comunicar através do corpo, até a palavra de deus, a graça, a salvação. Por isso estas realidades sobrenaturais ‘não podem ser propostas ao nosso mundo terreno e histórico a não ser através de símbolos sacramentais’.
Sacramento principal e primordial é Jesus Cristo. Nele se realiza a dupla função da sacramentalidade: Descendente de transmitir a graça e a função ascendente de agradecimento a Deus. (Jesus como salvador do homem e adorador do pai – sacramento.)
Atos de Cristo – atos de pessoa divina- atos salvíficos do homem Jesus têm forca divina de salvação – aparece para nós sob forma terrestre, visível – são sacramentos.
O amor divino – maneira humana – sacramento.
Igreja – sacramento – ela é a representação visível, histórica, da redenção definitiva – é instituição de salvação, é sacramento.
Igreja – sacramento primordial: Sacramentum humanitatis Christi – Cristo sacramental e O sujeito dos sete sacramentos – da ação ministerial.
Dos sete, o que realiza o encontro mais íntimo e eficaz com Deus, é a eucaristia.
Não é somente a Igreja hierárquica, mas toda a comunidade leiga dos crentes que pertence a este sinal de graça, este sinal que fala e que doa, que é a Igreja.
Igreja, Sacramento Universal da Salvação.
A Igreja, ‘é sacramento da salvação, mas em virtude da sua união com Cristo, inteiramente a partir d'Ele e por Ele’. Ou seja, ‘Cristo e a Igreja são portadores da salvação em condições diferentes: Cristo é mediador como chefe e fonte; a Igreja não é senão um mistério desta mediação de Cristo’.
• O problema de ‘extra ecclesiam nulla salus’.
• Sacramento de salvação – sinal do que instrumento efetivo de salvação.
• Estar fora da Igreja não significa estar fora da salvação por que o horizonte da salvação abraça, efetivamente, toda a humanidade, visto que Deus a quis e a realizou para todos os homens.
• Igreja x reino de Deus.
• Salvação fora da Igreja – Ranher – cristianismo anônimo.
• A salvação é oferecida a todo mundo e está realmente operando, ainda que de maneira menos visível da que acontece no momento em que os homens se tornam povo de Deus.
• Salvação, presente em toda a humanidade, recebe na Igreja sua forma manifestativa completa, mas também com uma obscuridade por causa de nossa imperfeição humana.
• Torna-se na Igreja , uma epifania; perfeitamente visível. A Igreja é manifestação perfeita da ação salvifica da graça de Deus; Dom e ocasião de graça – Igreja.
• Para preencher as lacunas, a igreja, como sacramento universal de salvação é, por forca de sua própria essência, uma igreja verdadeiramente missionária, orientada para a missão: A si mesmo – um sacramento de si e Sacramentum mundi – fora da Igreja; esperança para tudo mundo.
O termo sacramento - Por Mike Mutinda
O termo sacramento entra na linguagem cristã através de Tertuliano no princípio do séc. III. Inicialmente, “sacramentum” é o ato de consagração com que o soldado se compromete a tal fidelidade ao seu imperador e desta consagração traz sobre o seu corpo impresso um “sinal-selo”. A palavra sacramento vem do grego “mystérion”. Assim, os sacramentos são sinais através dos quais Deus, em seu Mistério, se aproxima do ser humano e os humanos se aproximam de Deus.
Os Sacramentos são sinais da comunhão com Deus, em Cristo, pelo Espírito Santo, que marcam com sua graça momentos fortes da vida. Na religiosidade popular o povo também encontra maneiras simples de expressar e viver sua fé e o compromisso missionário. A digna celebração dos sacramentais, como bênçãos e exéquias, vêm ao encontro da alma do povo e oportuniza a celebração do mistério pascal
A vida humana tem estrutura sacramental, pois esta se desenvolve a partir das relações do encontro de pessoas entre si e mais com as coisas e a realidade que a cercam. O encontro da pessoa com Deus passa por muitas mediações, entre elas os sacramentos.
Os sacramentos configuram a vida humana, numa íntima relação que vai desde a infância e faz processo de caminhada no crescimento da fé. Eles tem sentido porque estão inseridos na moldura da vida cristã, isto é, na vivência do seguimento de Jesus Cristo, que congrega seguidores no seio de uma comunidade de fé. A vida, podemos dizer, cresce a partir de elementos essenciais: saúde, alimentação, educação, moradia... A fé também cresce a partir da vida alimentada pela celebração, vivência comunitária, oração, leitura da Palavra, pelo amor experimentado na convivência dos irmãos e irmãs e na gratuidade de ir ao encontro dos outros.
Na linguagem do NT é o próprio Jesus que se torna sacramento. Ele é o sinal, a presença, o “Deus conosco” através de sua encarnação, vida, morte e ressurreição. Quando perdemos de vista a pessoa de Jesus, seu projeto, vida e compromisso, será mais difícil reconhecê-lo nos sacramentos. Para o cristão, os sacramentos precisam ser o sinal-selo do compromisso radical com a vida, do seguimento e encontro com a pessoa de Jesus no cotidiano e na vivência comunitária e da Igreja, onde, através da celebração, fazemos a memória do Mistério Pascal de Cristo
Os Sacramentos são sinais da comunhão com Deus, em Cristo, pelo Espírito Santo, que marcam com sua graça momentos fortes da vida. Na religiosidade popular o povo também encontra maneiras simples de expressar e viver sua fé e o compromisso missionário. A digna celebração dos sacramentais, como bênçãos e exéquias, vêm ao encontro da alma do povo e oportuniza a celebração do mistério pascal
A vida humana tem estrutura sacramental, pois esta se desenvolve a partir das relações do encontro de pessoas entre si e mais com as coisas e a realidade que a cercam. O encontro da pessoa com Deus passa por muitas mediações, entre elas os sacramentos.
Os sacramentos configuram a vida humana, numa íntima relação que vai desde a infância e faz processo de caminhada no crescimento da fé. Eles tem sentido porque estão inseridos na moldura da vida cristã, isto é, na vivência do seguimento de Jesus Cristo, que congrega seguidores no seio de uma comunidade de fé. A vida, podemos dizer, cresce a partir de elementos essenciais: saúde, alimentação, educação, moradia... A fé também cresce a partir da vida alimentada pela celebração, vivência comunitária, oração, leitura da Palavra, pelo amor experimentado na convivência dos irmãos e irmãs e na gratuidade de ir ao encontro dos outros.
Na linguagem do NT é o próprio Jesus que se torna sacramento. Ele é o sinal, a presença, o “Deus conosco” através de sua encarnação, vida, morte e ressurreição. Quando perdemos de vista a pessoa de Jesus, seu projeto, vida e compromisso, será mais difícil reconhecê-lo nos sacramentos. Para o cristão, os sacramentos precisam ser o sinal-selo do compromisso radical com a vida, do seguimento e encontro com a pessoa de Jesus no cotidiano e na vivência comunitária e da Igreja, onde, através da celebração, fazemos a memória do Mistério Pascal de Cristo
SANTÍSSIMA VIRGEM CONSOLATA - Padroeira e Mãe Do Instituto Missões Consolata.
Introdução.
Há séculos, a santíssima virgem é honrada e venerada, na cidade de Turim, sob o titulo de CONSOLATA, no celebre santuário que lhe é dedicado. O bem aventurado José Allamano, fundador dos missionários e missionárias da Consolata, foi reitor do santuário pelo espaço de 46 anos; durante este tempo reacendeu a devoção à virgem Consolata em todas as categorias de pessoas. Devolveu novo esplendor ao santuário, renovando-o material e espiritualmente. Com a fundação do instituto dos missionários/as da Consolata acrescentou uma nova pérola à coroa da virgem. Allamano teve a firme convicção de que ‘O Instituto surgiu por vontade da Consolata’. A fundadora é ela. E nós a veneramos como padroeira e mãe. Trazemos o titulo da Consolata ‘como um nome e sobre nome’. O instituto é obra de Maria. Por isso, a solenidade da Consolata no dia 20 de junho é ‘nossa festa, nossa de maneira especial’.
A Devoção Mariana na Itália.
A devoção mariana encontra-se presente em qualquer época da espiritualidade cristã; não, porem, com as mesmas características e com a mesma intensidade. Se, no inicio do século XIX, a devoção mariana apresentava-se em proporções modestas, o confluir de diversos fatores provocou um crescimento significativo, a tal ponto, que no final do mesmo século, alcançou dimensões grandiosas. Entre estes fatores merece destaque a proclamação do dogma da imaculada conceição em 1854; as aparições; a fundação de congregações religiosas dedicadas a viver e propagar a devoção a Maria; as conversões de pessoas ilustres que passaram a divulgar tal devoção; as peregrinações. As praticas devocionais que adquiriram maior importância são o rosário e o mês de maio.
A devoção mariana era um elemento significativo da espiritualidade do século XIX. Vale para esta devoção, em particular, o que Stella diz a nível geral sobre as devoções, “o oitocentos, também sob este aspecto pode ser considerado como um século de transição, com persistência da religiosidade arcaica magicista e com a prevalência de orientações mais equilibradas da piedade individual e coletiva. As invocações mais comum eram as sugeridas pela própria ave-maria; minha mãe, mãe santa. Os títulos mais usados eram os da salve-rainha; boa mãe, mãe de misericórdia, mãe de todas as graças. Sobre o titulo de nossa mãe e mãe de deus, projetava-se a concepção de mãe, típica do sistema patriarcal oitocentista, modulada pela afetividade induzida pelo romantismo e matizada pelo papel de suprema autoridade atribuída ao pai pela legislação popular, mesmo no final do século, podiam ser encontradas dramatizações onde, no juízo final, cristo aparecia como o juiz sincero e Maira como representante, por excelência, da misericórdia divina.
A piedade mariana apoiava-se na dimensão filial e no tema da plena confiança, próprias do relacionamento do filho com a mãe. Não obstante as tendências apocalípticas e antiliberais que se faziam presentes, sobretudo na interpretação do significado e mensagens das aparições, verificou-se, ao longo e particularmente na segunda parte do século, uma progressiva purificação do culto mariano, fundamentando-o na mensagem de fé expressa na definição dogmática da imaculada conceição. O clima mariano penetrou em toda a igreja italiana e vitalizou os santuários, promovidos por eclesiásticos e leigos, seja em território urbano ou rural.
A Devoção à Consolata em Turim.
O santuário da Consolata é para Turim o principal centro de devoção mariana. Segundo uma pia tradição, quem propôs ao povo turines a devoção a nossa senhora Consolata teria sido são Maximo, bispo de Turim no final do século IV. O quadro, escondido nos subterrâneos da igreja de santo Andre durante o período iconoclasta, teria sido prodigiosamente encontrado pelo cego de Briançon em 1104. estudos recentes afirmam que uma tal versão dos fatos carece de fundamentação histórica e hipotizam que o culto à Consolata, sob o originário titulo de nossa senhora da consolação, se tenha gradualmente desenvolvido junto à igreja de santo André, a partir da chegada dos monges beneditinos, provindos da abadia da Novalesa, fugitivos à invasão dos sarracenos.
Hinos e crônicas escritos pelos mesmos monges testemunham que a vivacidade da devoção mariana nesta comunidade monacal, bem como o seu empenho para suscitar a devoção no povo circunstante. Precedentes a uma devoção especifica à Consolata e aos primeiros documentos referentes à capela ou santuário da Consolata, estes hinos e crônicas chamam a atenção para um elemento fundamental na devoção mariana que confluirá no santuário da Consolata. Os títulos que estes monges usam para referir-se a nossa senhora põem em evidencia a sua maternidade. Maria é, sobretudo, a mãe de Deus e mãe solícita pelo bem dos seus filhos.
O USO DOS TÍTULOS: Consolata, Consoladora e da Consolação.
A idéia da expressão piemontesa La Consola e o seu correspondente italiano La Consolata é a forma do particípio passado, do gênero feminino, e como tal tem uma significação passiva: ‘aquela que foi consolada’. Há diversos textos, hinos e representações sacras em que Maria é apresentada como a desconsolada que necessita de consolação. Segundo G. Gasca Queirazza (autor do ‘La Consola – La Consolata: il titolo caratteristico della devozione alla Madonna di Torin”) a denominação a ou de Consolatione (da consolação) seria a única de uso propriamente litúrgico e a que é habitualmente empregada nos documentos oficiais eclesiásticos e esporadicamente em outros documentos vários; o apelativo Consolatrix ou Consolatrice, (consoladora) encontrado pela primeira vez no final do século XVI seria predileto no estilo epigrafico e freqüentemente empregado nas exposições doutrinais e de tipo exortativo, quando se quer convidar os fieis à confiança em Maria; o titulo Consolata seria mais freqüente e praticamente o único usado para designar diretamente a igreja, a imagem e a própria virgem Maria na devoção turinesa.
Quando os turineses chamam nossa senhora pelo nome, se dirigem a ela com o titulo Consolata ou na expressão dialetal La Consolà. Consolata é, por diversas vezes, apresentada como aquela que é objeto de consolação. Ela foi consolada por Deus pai que a escolheu para ser a mãe do seu filho; é consolada pelo filho que a cumulou dos mais ricos dons na ordem da natureza e da graça; é consolada pelo espírito que a escolheu por esposa e a enriqueceu com os seus dons divinos; agora é consolada no céu porque é a rainha do universo. Tendo tomado o nome da virgem Consolata, o instituto missões Consolata, tem como fim consolar o próprio coração do nosso senhor Jesus cristo, realizando os desejos mais ardentes do seu amor. Neste caso, o uso do termo se dissocia daquela que é a perspectiva principal da sagrada escritura. Nesta, o termo, quando de alguma forma é referido a Deus, o apresenta como o consolador em relação aos homens necessitados de consolação e não vice-versa.
CONSOLATA: O Anuncio Que Busca Justiça E Alegria.
“Eu porei neles um sinal e enviarei os seus descendentes às nações, às ilhas longínquas, que nunca ouviram falar de mim e nunca viram a minha gloria, e anunciarão a minha gloria às nações.” . Essas são as palavras que se encontram na primeira parte das nossas constituições que tem como introdução a nossa vocação na igreja.
Pe. Allamano fundara em 1901 os missionários da Consolata (padres e irmãos), e em 1910 as missionárias da Consolata . Ele deu-lhes o mesmo fim especifico expresso no lema, ‘anunciarão a minha gloria aos povos’ (Is. 66,19) Este é um lema a mais para refletir quando falamos de Consolata. Várias questões perturbam-nos enquanto o lemos – porque Allamano escolheu esta frase de Isaias como o nosso lema? Por que não foi de outro livro de Isaias? O que significa esta frase no seu sentido original? Qual é a aplicação dela no dia de hoje?
A tradução bíblica (versão - A Nova Bíblia de Jerusalém) da frase que as constituições usam diz o seguinte: “Porei um sinal no meio deles e enviarei sobreviventes dentre eles às nações: e Tarsis, A Fut, A Lud, A Mosoc, A Tubal e a Java, às ilhas distantes que nunca ouviram falar a meu respeito, nem viram a minha gloria entre as nações. Estes proclamarão a minha glória entre as nações,...” (Isaias 66,19.)
Como explicar este pronunciamento encontrado em Isaias? Primeiramente, é ver o seu contexto em que se encontra esta frase. O que significa o sinal? As nações? Ver a gloria? Anunciar a gloria? Enviar? Etc.
A nossa primeira pressuposta é que muitos exegetas concordam que os vv. 18-24 provavelmente foram acrescentados como conclusão dos caps. 46-66, ou até mesmo do livro inteiro. Todo o trecho devia ser em verso e possivelmente foi desfigurado pela inserção da lista de nações do v. 19 e dos meios de transporte do v. 20 . Todas as nações serão convertidas e reconduzirão os dispersos de Israel a Jerusalém em oferenda a Deus? Mas é Israel que recebe as promessas eternas – e ai, como que é? Em nenhum outro passo do AT o universalismo e o particularismo se encontram tão justapostos. E os sobreviventes das nações, (cf. 45,20-25) são os convertidos? São ‘missionários’? E as noções enumeradas? Esta lista é adição que toma seus elementos de Ez. 27,10-13? As identificações prováveis são: Tarsis – Espanha; Fut – líbia; Lud – Lidia; Mosoc – frigia; Tubal – Cilicia?
O gesto de Javé de colocar um sinal entre elas é muito importante, embora não se diz que consiste este sinal, mas num contexto textual mais global é o equivalente do estandarte, da mão e da bandeira que segundo 11, 10-12, Javé levantava sucessivamente para convocar a diáspora. Mão e bandeira eram levantadas também com o mesmo objetivo, em 49,22. A finalidade deste sinal é, de fato, explicitada de imediato em 66,19a ‘e enviarei (a chamar) dentre elas ‘escapados-às-nações’ que, com toda evidencia, são israelitas e judeus. Por tanto, no uso estrito da palavra missionária, não há nenhuma, perspectiva missionária neste oráculo, como em nenhum outro do livro de Isaias.
O livro de Isaias é formado por um conjunto de 66 capítulos. Ai encontramos três livros de épocas diferentes, mas todos te em comum as situações de opressão e consolação. O 1º Isaias (1-39): esta profecia é do século VIII a.C. O grupo enfrenta conflitos com a monarquia e o império assírio. O 2º Isaias (40-55): no contexto do exílio, por volta de 540 a.C. O povo vive sob a tirania do império babilônico. E o 3º Isaias (56-66): surge em Judá, entre os anos 540 e 450 a.C. No processo de reconstrução de Jerusalém, o grupo profético denuncia a corrupção e a exploração das elites judaicas e do império persa.
O segundo Isaias reaviva a fé e a esperança do povo do voltar para Jerusalém: “saiam da babilônia, fujam dos caldeus. Anunciem isso com gritos de alegria, espalhem a noticia até os confins da terra. Digam assim: Javé redimiu seu servo Jacó.” (Is. 48,20). O ano 538 a.C, marca o fim do exílio da babilônia. O decreto de Ciro, imperador da pérsia, possibilita o regresso dos povos dominados. O livro do 2º Isaías. Termina com a descrição de como será a volta para Jerusalém e a garantia da presença de Javé nesta caminhada. (55,12-13). As pessoas exiladas voltam com o sonho de construir uma nova Jerusalém. Querem refazer a aliança com Javé e construir uma sociedade justa e fraterna, com água, bebida e comida para todas e todos. (54-55).
Mas os anos passam e nada de acontecer a salvação e a libertação prometidas por Javé. A elite judaica se alia aos persas na opressão e exploração do povo. O templo e a lei se tornam instrumentos eficazes na coleta dos tributos e impostos. A maioria da população especialmente a camponesa experimenta fome, miséria, desemprego, expropriação, falta de moradia, morte prematura e escravidão . Muitas pessoas caem na descrença, algumas abandonam a fidelidade a Javé e buscam outras divindades (57,3). Quando tudo parece perdido, ressurge uma luz. Um grupo, provavelmente formado por levitas e pessoas pobres, começa a reconstruir o sonho: “observem o direito e pratiquem a justiça, por que a minha salvação está para chegar e a minha justiça vai se manifestar”. (56,1).
A busca de realizar o direito e a justiça é a temática que é abordada por 3º Isaias. Os levitas são pessoas fieis à palavra de Deus e ao compromisso com as pessoas destituídas de dignidade. O capitulo 66, que nos concerne por excelência, começa com a direção do olhar de javé: “eu olho para o aflito e o de espírito abatido, e também para aquele que estremece diante das minhas palavras”. E ainda: “ouçam a palavra de Javé, vocês que veneram a palavra dele”. (Is. 66,2b.5)
A final, para quem é a mensagem de salvação? Para os outros povos? Para os ‘escapados-às-nações’ (v.19a), que são israelitas/ judeus? As nações, tantas vezes mencionadas, não intervêm como tais, mas sempre em relação com a presença de israelitas no meio deles. No v. 18, ‘as nações e línguas’ parece uma designação dos outros povos, os não israelitas / judeus. E é verdade que virão e verão minha gloria. (v. 18b). Ver / conhecer a gloria de Javé é uma expressão freqüente nos relatos ou oráculos de salvação para Israel no contexto de sua dominação por poderes estrangeiros. O próprio Javé o diz acerca dos egípcios no magno acontecimento da libertação. (Ex. 7,5; 14,4-18).
O v. 19a, ‘e enviarei” – o verbo enviar, shalah, em sua forma intensiva nem sempre significa ‘enviar’, mas também ‘enviar para chamar’. A idéia é de vida e não de ida. Ou melhor, o mensageiro ‘vai’ a alguém para ‘fazê-lo vir’. O texto não fala de enviar estes ‘escapados’ para irem agora às nações, mas o que Javé faz vir (a Jerusalém). São “escapados-às-nações”, expressão que se refere ao passado e não ao presente ou futuro: Equivale a dizer: ‘os que haviam escapado (em outro tempo) às nações. Essa convocação de Isaias do povo da diáspora é um tema que costuma ser entendido ‘missionariamente’ mas que é justamente referente ao resgate de Israel dentre as nações como aparece em (Is. 2, 2-4;11,10-16;25,6-10a etc.) .
Agora, em v. 19, depois da primeira parte, segue um longo parêntese, em que se mencionam algumas dessas nações onde os ‘escapados’ se haviam refugiado em seu momento. O importante é destacar a pluralidade e a grande distancia, para assim mostrar a capacidade de Javé de reunir.
O inciso ‘... que não ouviram noticias de mim nem viram minha gloria’ é uma frase relativo que concorda com o sujeito imediato – as ilhas longínquas e os povos citados – e não com ‘escapados’, substantivo que fica muito distante. Esta descrição das outras nações expressa, por sua própria ‘memória histórica’, baseada em sua experiência salfívica de Javé. Este parêntese explica retrospectivamente o v. 18a: as nações e línguas, no futuro, ‘virão e verão minha gloria /energia’. Como isto acontecerá?
BIBLIOGRAFIA.
A .Magnante. La Consolazione nella bibbia, em La Consolata ispiratrice della missione. Relazione tenute AL congresso mariano dell’istituto missioni Consolata. Roma, 1988.
Centro Bíblico Verbo. Sonhar de Novo: Segundo e Terceiro Isaias (40-66). (são Paulo – Paulus, 2004.)
D. Franchetti. La Consolata, Opera storico-critica. Storia della Consolata com illustrazioni critiche e documenti inediti, Torino, 1903.
G. Casiraghi. Sulle origini Del santuário della Consolata a Torino, em bollettino storico – bibliográfico subalpino, 1989.
G. Gasca Queirazza. La Consola – La Consolata: il titolo caratteristico della devozione alla Madonna di Torino. Em Studio piemontesi, 1972.
Instituto Missionário da Consolata. Constituições e Diretório Geral. Roma, 1996.
Instituto Missões Consolata. Diretório da oração. Roma - direção geral, 1993.
J. Severino Croato. Isaias: a palavra profética e sua releitura hermenêutica. (Petrópolis - vozes, 2002).
L. Cibrario. Storia Del santuário dellla Consolata, Torino 1845.
Luiz Balsan. O carisma do Instituto Missões Consolata na expressão de seu fundador José Allamano (1851-1926). Edizioni missioni Consolata, 2001. Roma – Itália.
Paul D. Hanson. Isaiah 40-66.: Interpretation, a bible commentary for teaching and preaching. (Louisville, Kentucky: John Knox press,, 1995)
Pe. Lorenzo Sales, IMC. Padre José Allamano. A Vida Espiritual. 2º Edicioni. Torino – Itália, 1963.
Há séculos, a santíssima virgem é honrada e venerada, na cidade de Turim, sob o titulo de CONSOLATA, no celebre santuário que lhe é dedicado. O bem aventurado José Allamano, fundador dos missionários e missionárias da Consolata, foi reitor do santuário pelo espaço de 46 anos; durante este tempo reacendeu a devoção à virgem Consolata em todas as categorias de pessoas. Devolveu novo esplendor ao santuário, renovando-o material e espiritualmente. Com a fundação do instituto dos missionários/as da Consolata acrescentou uma nova pérola à coroa da virgem. Allamano teve a firme convicção de que ‘O Instituto surgiu por vontade da Consolata’. A fundadora é ela. E nós a veneramos como padroeira e mãe. Trazemos o titulo da Consolata ‘como um nome e sobre nome’. O instituto é obra de Maria. Por isso, a solenidade da Consolata no dia 20 de junho é ‘nossa festa, nossa de maneira especial’.
A Devoção Mariana na Itália.
A devoção mariana encontra-se presente em qualquer época da espiritualidade cristã; não, porem, com as mesmas características e com a mesma intensidade. Se, no inicio do século XIX, a devoção mariana apresentava-se em proporções modestas, o confluir de diversos fatores provocou um crescimento significativo, a tal ponto, que no final do mesmo século, alcançou dimensões grandiosas. Entre estes fatores merece destaque a proclamação do dogma da imaculada conceição em 1854; as aparições; a fundação de congregações religiosas dedicadas a viver e propagar a devoção a Maria; as conversões de pessoas ilustres que passaram a divulgar tal devoção; as peregrinações. As praticas devocionais que adquiriram maior importância são o rosário e o mês de maio.
A devoção mariana era um elemento significativo da espiritualidade do século XIX. Vale para esta devoção, em particular, o que Stella diz a nível geral sobre as devoções, “o oitocentos, também sob este aspecto pode ser considerado como um século de transição, com persistência da religiosidade arcaica magicista e com a prevalência de orientações mais equilibradas da piedade individual e coletiva. As invocações mais comum eram as sugeridas pela própria ave-maria; minha mãe, mãe santa. Os títulos mais usados eram os da salve-rainha; boa mãe, mãe de misericórdia, mãe de todas as graças. Sobre o titulo de nossa mãe e mãe de deus, projetava-se a concepção de mãe, típica do sistema patriarcal oitocentista, modulada pela afetividade induzida pelo romantismo e matizada pelo papel de suprema autoridade atribuída ao pai pela legislação popular, mesmo no final do século, podiam ser encontradas dramatizações onde, no juízo final, cristo aparecia como o juiz sincero e Maira como representante, por excelência, da misericórdia divina.
A piedade mariana apoiava-se na dimensão filial e no tema da plena confiança, próprias do relacionamento do filho com a mãe. Não obstante as tendências apocalípticas e antiliberais que se faziam presentes, sobretudo na interpretação do significado e mensagens das aparições, verificou-se, ao longo e particularmente na segunda parte do século, uma progressiva purificação do culto mariano, fundamentando-o na mensagem de fé expressa na definição dogmática da imaculada conceição. O clima mariano penetrou em toda a igreja italiana e vitalizou os santuários, promovidos por eclesiásticos e leigos, seja em território urbano ou rural.
A Devoção à Consolata em Turim.
O santuário da Consolata é para Turim o principal centro de devoção mariana. Segundo uma pia tradição, quem propôs ao povo turines a devoção a nossa senhora Consolata teria sido são Maximo, bispo de Turim no final do século IV. O quadro, escondido nos subterrâneos da igreja de santo Andre durante o período iconoclasta, teria sido prodigiosamente encontrado pelo cego de Briançon em 1104. estudos recentes afirmam que uma tal versão dos fatos carece de fundamentação histórica e hipotizam que o culto à Consolata, sob o originário titulo de nossa senhora da consolação, se tenha gradualmente desenvolvido junto à igreja de santo André, a partir da chegada dos monges beneditinos, provindos da abadia da Novalesa, fugitivos à invasão dos sarracenos.
Hinos e crônicas escritos pelos mesmos monges testemunham que a vivacidade da devoção mariana nesta comunidade monacal, bem como o seu empenho para suscitar a devoção no povo circunstante. Precedentes a uma devoção especifica à Consolata e aos primeiros documentos referentes à capela ou santuário da Consolata, estes hinos e crônicas chamam a atenção para um elemento fundamental na devoção mariana que confluirá no santuário da Consolata. Os títulos que estes monges usam para referir-se a nossa senhora põem em evidencia a sua maternidade. Maria é, sobretudo, a mãe de Deus e mãe solícita pelo bem dos seus filhos.
O USO DOS TÍTULOS: Consolata, Consoladora e da Consolação.
A idéia da expressão piemontesa La Consola e o seu correspondente italiano La Consolata é a forma do particípio passado, do gênero feminino, e como tal tem uma significação passiva: ‘aquela que foi consolada’. Há diversos textos, hinos e representações sacras em que Maria é apresentada como a desconsolada que necessita de consolação. Segundo G. Gasca Queirazza (autor do ‘La Consola – La Consolata: il titolo caratteristico della devozione alla Madonna di Torin”) a denominação a ou de Consolatione (da consolação) seria a única de uso propriamente litúrgico e a que é habitualmente empregada nos documentos oficiais eclesiásticos e esporadicamente em outros documentos vários; o apelativo Consolatrix ou Consolatrice, (consoladora) encontrado pela primeira vez no final do século XVI seria predileto no estilo epigrafico e freqüentemente empregado nas exposições doutrinais e de tipo exortativo, quando se quer convidar os fieis à confiança em Maria; o titulo Consolata seria mais freqüente e praticamente o único usado para designar diretamente a igreja, a imagem e a própria virgem Maria na devoção turinesa.
Quando os turineses chamam nossa senhora pelo nome, se dirigem a ela com o titulo Consolata ou na expressão dialetal La Consolà. Consolata é, por diversas vezes, apresentada como aquela que é objeto de consolação. Ela foi consolada por Deus pai que a escolheu para ser a mãe do seu filho; é consolada pelo filho que a cumulou dos mais ricos dons na ordem da natureza e da graça; é consolada pelo espírito que a escolheu por esposa e a enriqueceu com os seus dons divinos; agora é consolada no céu porque é a rainha do universo. Tendo tomado o nome da virgem Consolata, o instituto missões Consolata, tem como fim consolar o próprio coração do nosso senhor Jesus cristo, realizando os desejos mais ardentes do seu amor. Neste caso, o uso do termo se dissocia daquela que é a perspectiva principal da sagrada escritura. Nesta, o termo, quando de alguma forma é referido a Deus, o apresenta como o consolador em relação aos homens necessitados de consolação e não vice-versa.
CONSOLATA: O Anuncio Que Busca Justiça E Alegria.
“Eu porei neles um sinal e enviarei os seus descendentes às nações, às ilhas longínquas, que nunca ouviram falar de mim e nunca viram a minha gloria, e anunciarão a minha gloria às nações.” . Essas são as palavras que se encontram na primeira parte das nossas constituições que tem como introdução a nossa vocação na igreja.
Pe. Allamano fundara em 1901 os missionários da Consolata (padres e irmãos), e em 1910 as missionárias da Consolata . Ele deu-lhes o mesmo fim especifico expresso no lema, ‘anunciarão a minha gloria aos povos’ (Is. 66,19) Este é um lema a mais para refletir quando falamos de Consolata. Várias questões perturbam-nos enquanto o lemos – porque Allamano escolheu esta frase de Isaias como o nosso lema? Por que não foi de outro livro de Isaias? O que significa esta frase no seu sentido original? Qual é a aplicação dela no dia de hoje?
A tradução bíblica (versão - A Nova Bíblia de Jerusalém) da frase que as constituições usam diz o seguinte: “Porei um sinal no meio deles e enviarei sobreviventes dentre eles às nações: e Tarsis, A Fut, A Lud, A Mosoc, A Tubal e a Java, às ilhas distantes que nunca ouviram falar a meu respeito, nem viram a minha gloria entre as nações. Estes proclamarão a minha glória entre as nações,...” (Isaias 66,19.)
Como explicar este pronunciamento encontrado em Isaias? Primeiramente, é ver o seu contexto em que se encontra esta frase. O que significa o sinal? As nações? Ver a gloria? Anunciar a gloria? Enviar? Etc.
A nossa primeira pressuposta é que muitos exegetas concordam que os vv. 18-24 provavelmente foram acrescentados como conclusão dos caps. 46-66, ou até mesmo do livro inteiro. Todo o trecho devia ser em verso e possivelmente foi desfigurado pela inserção da lista de nações do v. 19 e dos meios de transporte do v. 20 . Todas as nações serão convertidas e reconduzirão os dispersos de Israel a Jerusalém em oferenda a Deus? Mas é Israel que recebe as promessas eternas – e ai, como que é? Em nenhum outro passo do AT o universalismo e o particularismo se encontram tão justapostos. E os sobreviventes das nações, (cf. 45,20-25) são os convertidos? São ‘missionários’? E as noções enumeradas? Esta lista é adição que toma seus elementos de Ez. 27,10-13? As identificações prováveis são: Tarsis – Espanha; Fut – líbia; Lud – Lidia; Mosoc – frigia; Tubal – Cilicia?
O gesto de Javé de colocar um sinal entre elas é muito importante, embora não se diz que consiste este sinal, mas num contexto textual mais global é o equivalente do estandarte, da mão e da bandeira que segundo 11, 10-12, Javé levantava sucessivamente para convocar a diáspora. Mão e bandeira eram levantadas também com o mesmo objetivo, em 49,22. A finalidade deste sinal é, de fato, explicitada de imediato em 66,19a ‘e enviarei (a chamar) dentre elas ‘escapados-às-nações’ que, com toda evidencia, são israelitas e judeus. Por tanto, no uso estrito da palavra missionária, não há nenhuma, perspectiva missionária neste oráculo, como em nenhum outro do livro de Isaias.
O livro de Isaias é formado por um conjunto de 66 capítulos. Ai encontramos três livros de épocas diferentes, mas todos te em comum as situações de opressão e consolação. O 1º Isaias (1-39): esta profecia é do século VIII a.C. O grupo enfrenta conflitos com a monarquia e o império assírio. O 2º Isaias (40-55): no contexto do exílio, por volta de 540 a.C. O povo vive sob a tirania do império babilônico. E o 3º Isaias (56-66): surge em Judá, entre os anos 540 e 450 a.C. No processo de reconstrução de Jerusalém, o grupo profético denuncia a corrupção e a exploração das elites judaicas e do império persa.
O segundo Isaias reaviva a fé e a esperança do povo do voltar para Jerusalém: “saiam da babilônia, fujam dos caldeus. Anunciem isso com gritos de alegria, espalhem a noticia até os confins da terra. Digam assim: Javé redimiu seu servo Jacó.” (Is. 48,20). O ano 538 a.C, marca o fim do exílio da babilônia. O decreto de Ciro, imperador da pérsia, possibilita o regresso dos povos dominados. O livro do 2º Isaías. Termina com a descrição de como será a volta para Jerusalém e a garantia da presença de Javé nesta caminhada. (55,12-13). As pessoas exiladas voltam com o sonho de construir uma nova Jerusalém. Querem refazer a aliança com Javé e construir uma sociedade justa e fraterna, com água, bebida e comida para todas e todos. (54-55).
Mas os anos passam e nada de acontecer a salvação e a libertação prometidas por Javé. A elite judaica se alia aos persas na opressão e exploração do povo. O templo e a lei se tornam instrumentos eficazes na coleta dos tributos e impostos. A maioria da população especialmente a camponesa experimenta fome, miséria, desemprego, expropriação, falta de moradia, morte prematura e escravidão . Muitas pessoas caem na descrença, algumas abandonam a fidelidade a Javé e buscam outras divindades (57,3). Quando tudo parece perdido, ressurge uma luz. Um grupo, provavelmente formado por levitas e pessoas pobres, começa a reconstruir o sonho: “observem o direito e pratiquem a justiça, por que a minha salvação está para chegar e a minha justiça vai se manifestar”. (56,1).
A busca de realizar o direito e a justiça é a temática que é abordada por 3º Isaias. Os levitas são pessoas fieis à palavra de Deus e ao compromisso com as pessoas destituídas de dignidade. O capitulo 66, que nos concerne por excelência, começa com a direção do olhar de javé: “eu olho para o aflito e o de espírito abatido, e também para aquele que estremece diante das minhas palavras”. E ainda: “ouçam a palavra de Javé, vocês que veneram a palavra dele”. (Is. 66,2b.5)
A final, para quem é a mensagem de salvação? Para os outros povos? Para os ‘escapados-às-nações’ (v.19a), que são israelitas/ judeus? As nações, tantas vezes mencionadas, não intervêm como tais, mas sempre em relação com a presença de israelitas no meio deles. No v. 18, ‘as nações e línguas’ parece uma designação dos outros povos, os não israelitas / judeus. E é verdade que virão e verão minha gloria. (v. 18b). Ver / conhecer a gloria de Javé é uma expressão freqüente nos relatos ou oráculos de salvação para Israel no contexto de sua dominação por poderes estrangeiros. O próprio Javé o diz acerca dos egípcios no magno acontecimento da libertação. (Ex. 7,5; 14,4-18).
O v. 19a, ‘e enviarei” – o verbo enviar, shalah, em sua forma intensiva nem sempre significa ‘enviar’, mas também ‘enviar para chamar’. A idéia é de vida e não de ida. Ou melhor, o mensageiro ‘vai’ a alguém para ‘fazê-lo vir’. O texto não fala de enviar estes ‘escapados’ para irem agora às nações, mas o que Javé faz vir (a Jerusalém). São “escapados-às-nações”, expressão que se refere ao passado e não ao presente ou futuro: Equivale a dizer: ‘os que haviam escapado (em outro tempo) às nações. Essa convocação de Isaias do povo da diáspora é um tema que costuma ser entendido ‘missionariamente’ mas que é justamente referente ao resgate de Israel dentre as nações como aparece em (Is. 2, 2-4;11,10-16;25,6-10a etc.) .
Agora, em v. 19, depois da primeira parte, segue um longo parêntese, em que se mencionam algumas dessas nações onde os ‘escapados’ se haviam refugiado em seu momento. O importante é destacar a pluralidade e a grande distancia, para assim mostrar a capacidade de Javé de reunir.
O inciso ‘... que não ouviram noticias de mim nem viram minha gloria’ é uma frase relativo que concorda com o sujeito imediato – as ilhas longínquas e os povos citados – e não com ‘escapados’, substantivo que fica muito distante. Esta descrição das outras nações expressa, por sua própria ‘memória histórica’, baseada em sua experiência salfívica de Javé. Este parêntese explica retrospectivamente o v. 18a: as nações e línguas, no futuro, ‘virão e verão minha gloria /energia’. Como isto acontecerá?
BIBLIOGRAFIA.
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Centro Bíblico Verbo. Sonhar de Novo: Segundo e Terceiro Isaias (40-66). (são Paulo – Paulus, 2004.)
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Instituto Missões Consolata. Diretório da oração. Roma - direção geral, 1993.
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Luiz Balsan. O carisma do Instituto Missões Consolata na expressão de seu fundador José Allamano (1851-1926). Edizioni missioni Consolata, 2001. Roma – Itália.
Paul D. Hanson. Isaiah 40-66.: Interpretation, a bible commentary for teaching and preaching. (Louisville, Kentucky: John Knox press,, 1995)
Pe. Lorenzo Sales, IMC. Padre José Allamano. A Vida Espiritual. 2º Edicioni. Torino – Itália, 1963.
GRAÇA E NATUREZA: Agostinho e Pelagio - Por Mike Mutinda
Introdução.
A controvérsia pelagiana surgiu por volta de 411 ou 412 em Cartago. Celestius, discípulo de Pelágio, tentava ser nomeado presbítero em Cartago. Paulino o denunciou com a acusação de que ele ensinava que o batismo de infantes não objetivava a purificação do pecado. Em sua vez, Pelágio ensinava “que Adão foi feito mortal e teria morrido se tivesse ou não pecado – que o pecado de Adão só trouxe prejuízo a ele mesmo e não à raça humana – infantes, quando nascem, estão no estado em que Adão estava antes do seu erro – que a raça humana não morre por causa da morte de Adão e do seu erro e nem ressuscitará em virtude da ressurreição de Cristo – tanto a lei quanto o Evangelho admitem os homens no reino dos céus – mesmo antes do advento de nosso Senhor, houve homens impecáveis, isto é, homens sem pecado – que o homem pode estar sem pecado e pode facilmente manter os comandos divinos se assim o desejar”. O Sínodo de Cartago excomungou Celestius.
De Jerusalém, Pelágio escreveu uma carta lisonjeira a Agostinho. Este respondeu com uma carta cortês, mas cautelosa. Agostinho ainda estava se recuperando da pressão da controvérsia donatista e sabia pouco sobre a controvérsia que estava se formando em Cartago com Celestius. Agostinho recebeu notícias de Jerusalém de que o ensino de Pelágio estava causando um tumulto por lá. Osório, um amigo e discípulo de Agostinho, solicitou uma sindicância contra Pelágio em 415, mas Pelágio foi exonerado. O terceiro conselho ecumênico em Éfeso (431 d.C.), realizado um ano após a morte de Agostinho, condenou o pelagianismo.
A questão entre Pelágio e Agostinho era clara. Não estava ofuscada por argumentos teológicos intrincados. O problema reside entre a questão da graça e da natureza. A resolução pelagiana do paradoxo da graça foi baseada numa definição de graça fundamentalmente diferente da definição Agostiniana, e foi aí que o debate apertou. Espalhou-se que Pelágio estava ‘contestando a graça de Deus’. Seu tratado sobre a graça dava a impressão de concentrar-se ‘apenas no tópico da faculdade e capacidade da natureza, enquanto fez com que a graça de Deus consistisse quase que inteiramente disso’. Nesse livro, parecia que ‘com cada argumento possível, ele defendia a natureza do homem contra a graça de Deus, pela qual o ímpio é justificado e pela qual nós somos cristãos’.
Para Pelágio, a graça não é algo diferente ou além da natureza, nem acima dela; a graça está presente dentro da própria natureza. Em outras palavras, a graça é simplesmente a capacidade natural, que todos possuem, de fazer a coisa certa, de obedecer aos mandamentos e assim obter a salvação. Agostinho, por outro lado, vê um grande abismo entre a natureza, em seu estado caído, e a graça. Profundamente cônscio da impotência total de sua própria vontade em escolher corretamente. Para Pelágio, a natureza não requer graça a fim de cumprir suas obrigações. O livre-arbítrio, adequadamente exercido, produz virtude, que é o bem supremo e devidamente seguido pela recompensa. Por meio do seu próprio esforço, o homem pode alcançar tudo o que se requer dele na moralidade e na religião.
O Poder da Natureza.
A doutrina da graça de Pelágio é meramente o outro lado da sua doutrina do pecado. Por todo o seu pensamento, permanece a afirmação fundamental da inconversibilidade da natureza humana. Tendo sido criada boa, ela sempre permanece boa. Pelagio dizia que o homem podia viver sem pecado não contando com a graça de Deus, mas com o poder da natureza. Mas Agostinho, disse que o homem só pode viver assim só com a graça de Deus por Jesus Cristo.
A discussão levou a discutir sobre a natureza – não pecar e poder não pecar. Pelagio argumenta que não pecar, o não pecar depende de nós. Mas Agostinho negou esta posição dizendo que a não pecar não pode depender à eficácia da natureza. Para ele, a natureza apresenta-se tão decaída, que não reconhecê-lo é o maior pecado. Agostinho continua afirmar que a eficácia da natureza é ineficiente para a vida sem pecado. E que a possibilidade de não pecar não está entranhada na natureza. (Cf. Paulo, Rm. 7,15-18). Rebatendo a questão, Pelagio insista que a natureza humana é inseparável a possibilidade de não pecar. Indireto, Pelagio fala de Deus por que Deus é o autor da natureza. Agostinho responde dizendo que não há por que presumir tanto a possibilidade da natureza. Ela foi ferida, ofendida, abalada e arruinada; por isso, necessita de sincero reconhecimento, e não de defesa destorcida. Procure-se a graça de Deus, não a da criação, mas a da redenção, considerada por Pelagio como desnecessária.
A discussão teológica entre Pelagio e Agostinho envolvia o modo como Deus opera a sua graça. Agostinho, coerentemente com sua primeira afirmação, ou seja, de que todo ser humano é escravo do seu pecado e que o seu livre arbítrio possui uma fonte pecaminosa, morta espiritualmente, afirmava que o homem carece absolutamente da ação graciosa de Deus em todos os seus aspectos para ser salvo, sendo exposta essa posição na doutrina da predestinação. Pelágio, refutando Agostinho, afirmava que o homem possuí tanto o poder volitivo para escolher ser salvo, como para desistir desta salvação. Defendia que o ser humano possui uma capacidade de decidir o seu futuro independente da graça de Deus.
A partir deste argumento podemos tirar algumas conclusões pelagianas:
• Que a natureza foi criada não apenas boa, mas incontestavelmente boa. Isso é verdade porque as coisas da natureza persistem desde o início da existência (substância) até o seu fim;
• Que a natureza humana, como tal, é inalteravelmente boa. Isto é, a essência constituinte do homem permanece boa. A natureza não pode ser alterada na sua substância; só pode ser modificada acidentalmente. O termo acidentalmente aqui não significa que algo acontece sem intenção como um resultado do infortúnio;
• É que o mal ou pecado nunca pode transformar-se em natureza. Ele define o pecado como um desejo de fazer o que a justiça proíbe, do qual somos livres para nos abstermos e, assim, podemos sempre evitá-lo pelo exercício adequado da nossa vontade. O pecado é sempre um ato e nunca uma natureza. Caso contrário, Pelágio insiste, Deus seria o autor do mal. Os atos pecaminosos nunca podem causar uma natureza pecaminosa, e o mal também não pode ser herdado. Se pudesse, então a bondade e a justiça de Deus estariam destruídas;
• Que o pecado existe como o resultado das armadilhas de Satanás e da concupiscência sensual. Essas tentações ao pecado podem ser superadas pelo exercício da virtude. Nem a lascívia ou a concupiscência surgem da essência do homem, mas é “extrínseca” a ela. Essa concupiscência não é, em si mesma, má, porque até mesmo Cristo estava sujeito a ela. Isso dá origem à formulação histórica com reação à concupiscência: ela é do pecado e inclina ao pecado, mas não é, em si mesma, pecado;
• Que o hábito de pecar enfraquece a vontade. Esse enfraquecimento, no entanto, deve ser entendido no sentido acidental. O costume de pecar obscurece o nosso pensamento e nos conduz aos maus hábitos. Mas esses hábitos descrevem uma prática, não algo que realmente “habita a vontade”. A vontade não é enfraquecida; ela não passa por uma mudança constituinte. Ela ainda retém a postura da indiferença sempre que uma decisão ética ou moral precisa ser tomada;
• E que a graça facilita a bondade. A graça de Deus faz com que seja mais fácil para nós sermos justos. Ela nos assiste em nossa busca da perfeição. Mas o ponto crucial de Pelágio é que, embora a graça facilite a justiça, ela não é, de forma alguma, essencial para que alcancemos essa justiça. O homem pode e deveria ser bom sem a ajuda da graça.
Conclusões do Pensamento do Pelágio.
1. Os mais altos atributos de Deus são sua retidão e justiça.
2. Tudo o que Deus criou é bom.
3. Como algo criado, a natureza não pode ser mudada na sua essência.
4. A natureza humana é inalteravelmente boa.
5. O mal é um ato que nós podemos evitar.
6. O pecado vem via armadilhas satânicas e concupiscência sensual.
7. Pode haver homens sem pecado.
8. Adão foi criado com livre-arbítrio e santidade natural.
9. Adão pecou por livre vontade.
10. A descendência de Adão não herdou dele a morte natural.
11. Nem o pecado de Adão nem sua culpa foram transmitidos.
12. Todos os homens são criados como Adão era antes da queda.
13. O hábito de pecar enfraquece a vontade.
14. A graça da criação produz homens perfeitos.
15. A graça da lei de Deus ilumina e instrui.
16. Cristo trabalha principalmente pelo seu exemplo.
17. A graça é dada de acordo com a justiça e mérito.
A controvérsia pelagiana surgiu por volta de 411 ou 412 em Cartago. Celestius, discípulo de Pelágio, tentava ser nomeado presbítero em Cartago. Paulino o denunciou com a acusação de que ele ensinava que o batismo de infantes não objetivava a purificação do pecado. Em sua vez, Pelágio ensinava “que Adão foi feito mortal e teria morrido se tivesse ou não pecado – que o pecado de Adão só trouxe prejuízo a ele mesmo e não à raça humana – infantes, quando nascem, estão no estado em que Adão estava antes do seu erro – que a raça humana não morre por causa da morte de Adão e do seu erro e nem ressuscitará em virtude da ressurreição de Cristo – tanto a lei quanto o Evangelho admitem os homens no reino dos céus – mesmo antes do advento de nosso Senhor, houve homens impecáveis, isto é, homens sem pecado – que o homem pode estar sem pecado e pode facilmente manter os comandos divinos se assim o desejar”. O Sínodo de Cartago excomungou Celestius.
De Jerusalém, Pelágio escreveu uma carta lisonjeira a Agostinho. Este respondeu com uma carta cortês, mas cautelosa. Agostinho ainda estava se recuperando da pressão da controvérsia donatista e sabia pouco sobre a controvérsia que estava se formando em Cartago com Celestius. Agostinho recebeu notícias de Jerusalém de que o ensino de Pelágio estava causando um tumulto por lá. Osório, um amigo e discípulo de Agostinho, solicitou uma sindicância contra Pelágio em 415, mas Pelágio foi exonerado. O terceiro conselho ecumênico em Éfeso (431 d.C.), realizado um ano após a morte de Agostinho, condenou o pelagianismo.
A questão entre Pelágio e Agostinho era clara. Não estava ofuscada por argumentos teológicos intrincados. O problema reside entre a questão da graça e da natureza. A resolução pelagiana do paradoxo da graça foi baseada numa definição de graça fundamentalmente diferente da definição Agostiniana, e foi aí que o debate apertou. Espalhou-se que Pelágio estava ‘contestando a graça de Deus’. Seu tratado sobre a graça dava a impressão de concentrar-se ‘apenas no tópico da faculdade e capacidade da natureza, enquanto fez com que a graça de Deus consistisse quase que inteiramente disso’. Nesse livro, parecia que ‘com cada argumento possível, ele defendia a natureza do homem contra a graça de Deus, pela qual o ímpio é justificado e pela qual nós somos cristãos’.
Para Pelágio, a graça não é algo diferente ou além da natureza, nem acima dela; a graça está presente dentro da própria natureza. Em outras palavras, a graça é simplesmente a capacidade natural, que todos possuem, de fazer a coisa certa, de obedecer aos mandamentos e assim obter a salvação. Agostinho, por outro lado, vê um grande abismo entre a natureza, em seu estado caído, e a graça. Profundamente cônscio da impotência total de sua própria vontade em escolher corretamente. Para Pelágio, a natureza não requer graça a fim de cumprir suas obrigações. O livre-arbítrio, adequadamente exercido, produz virtude, que é o bem supremo e devidamente seguido pela recompensa. Por meio do seu próprio esforço, o homem pode alcançar tudo o que se requer dele na moralidade e na religião.
O Poder da Natureza.
A doutrina da graça de Pelágio é meramente o outro lado da sua doutrina do pecado. Por todo o seu pensamento, permanece a afirmação fundamental da inconversibilidade da natureza humana. Tendo sido criada boa, ela sempre permanece boa. Pelagio dizia que o homem podia viver sem pecado não contando com a graça de Deus, mas com o poder da natureza. Mas Agostinho, disse que o homem só pode viver assim só com a graça de Deus por Jesus Cristo.
A discussão levou a discutir sobre a natureza – não pecar e poder não pecar. Pelagio argumenta que não pecar, o não pecar depende de nós. Mas Agostinho negou esta posição dizendo que a não pecar não pode depender à eficácia da natureza. Para ele, a natureza apresenta-se tão decaída, que não reconhecê-lo é o maior pecado. Agostinho continua afirmar que a eficácia da natureza é ineficiente para a vida sem pecado. E que a possibilidade de não pecar não está entranhada na natureza. (Cf. Paulo, Rm. 7,15-18). Rebatendo a questão, Pelagio insista que a natureza humana é inseparável a possibilidade de não pecar. Indireto, Pelagio fala de Deus por que Deus é o autor da natureza. Agostinho responde dizendo que não há por que presumir tanto a possibilidade da natureza. Ela foi ferida, ofendida, abalada e arruinada; por isso, necessita de sincero reconhecimento, e não de defesa destorcida. Procure-se a graça de Deus, não a da criação, mas a da redenção, considerada por Pelagio como desnecessária.
A discussão teológica entre Pelagio e Agostinho envolvia o modo como Deus opera a sua graça. Agostinho, coerentemente com sua primeira afirmação, ou seja, de que todo ser humano é escravo do seu pecado e que o seu livre arbítrio possui uma fonte pecaminosa, morta espiritualmente, afirmava que o homem carece absolutamente da ação graciosa de Deus em todos os seus aspectos para ser salvo, sendo exposta essa posição na doutrina da predestinação. Pelágio, refutando Agostinho, afirmava que o homem possuí tanto o poder volitivo para escolher ser salvo, como para desistir desta salvação. Defendia que o ser humano possui uma capacidade de decidir o seu futuro independente da graça de Deus.
A partir deste argumento podemos tirar algumas conclusões pelagianas:
• Que a natureza foi criada não apenas boa, mas incontestavelmente boa. Isso é verdade porque as coisas da natureza persistem desde o início da existência (substância) até o seu fim;
• Que a natureza humana, como tal, é inalteravelmente boa. Isto é, a essência constituinte do homem permanece boa. A natureza não pode ser alterada na sua substância; só pode ser modificada acidentalmente. O termo acidentalmente aqui não significa que algo acontece sem intenção como um resultado do infortúnio;
• É que o mal ou pecado nunca pode transformar-se em natureza. Ele define o pecado como um desejo de fazer o que a justiça proíbe, do qual somos livres para nos abstermos e, assim, podemos sempre evitá-lo pelo exercício adequado da nossa vontade. O pecado é sempre um ato e nunca uma natureza. Caso contrário, Pelágio insiste, Deus seria o autor do mal. Os atos pecaminosos nunca podem causar uma natureza pecaminosa, e o mal também não pode ser herdado. Se pudesse, então a bondade e a justiça de Deus estariam destruídas;
• Que o pecado existe como o resultado das armadilhas de Satanás e da concupiscência sensual. Essas tentações ao pecado podem ser superadas pelo exercício da virtude. Nem a lascívia ou a concupiscência surgem da essência do homem, mas é “extrínseca” a ela. Essa concupiscência não é, em si mesma, má, porque até mesmo Cristo estava sujeito a ela. Isso dá origem à formulação histórica com reação à concupiscência: ela é do pecado e inclina ao pecado, mas não é, em si mesma, pecado;
• Que o hábito de pecar enfraquece a vontade. Esse enfraquecimento, no entanto, deve ser entendido no sentido acidental. O costume de pecar obscurece o nosso pensamento e nos conduz aos maus hábitos. Mas esses hábitos descrevem uma prática, não algo que realmente “habita a vontade”. A vontade não é enfraquecida; ela não passa por uma mudança constituinte. Ela ainda retém a postura da indiferença sempre que uma decisão ética ou moral precisa ser tomada;
• E que a graça facilita a bondade. A graça de Deus faz com que seja mais fácil para nós sermos justos. Ela nos assiste em nossa busca da perfeição. Mas o ponto crucial de Pelágio é que, embora a graça facilite a justiça, ela não é, de forma alguma, essencial para que alcancemos essa justiça. O homem pode e deveria ser bom sem a ajuda da graça.
Conclusões do Pensamento do Pelágio.
1. Os mais altos atributos de Deus são sua retidão e justiça.
2. Tudo o que Deus criou é bom.
3. Como algo criado, a natureza não pode ser mudada na sua essência.
4. A natureza humana é inalteravelmente boa.
5. O mal é um ato que nós podemos evitar.
6. O pecado vem via armadilhas satânicas e concupiscência sensual.
7. Pode haver homens sem pecado.
8. Adão foi criado com livre-arbítrio e santidade natural.
9. Adão pecou por livre vontade.
10. A descendência de Adão não herdou dele a morte natural.
11. Nem o pecado de Adão nem sua culpa foram transmitidos.
12. Todos os homens são criados como Adão era antes da queda.
13. O hábito de pecar enfraquece a vontade.
14. A graça da criação produz homens perfeitos.
15. A graça da lei de Deus ilumina e instrui.
16. Cristo trabalha principalmente pelo seu exemplo.
17. A graça é dada de acordo com a justiça e mérito.
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