A MÍSTICA ISLÂMICA
Sufismo.
Há várias hipóteses quanto à etimologia da palavra sufi. O termo suf (lã, em árabe), pode ser uma das origens, aludindo aos mantos de lã que vestiam os primeiros sufis. O sheik Çimen, contudo, refuta a justificativa do traje e defende duas outras possibilidades. A primeira, relacionada à expressão ahl al-suffah (“os do sofá”), que designa um grupo de companheiros do profeta que ficavam em sofás, apartados na mesquita de Medina, dedicados à devoção. A segunda, remete à raiz verbal árabe safá, que significa purificar-se, e remete ao entendimento do sufismo como um caminho de pureza .
Século XIX – O Sufismo no Brasil.
Há várias hipóteses quanto à chegada do sufismo no Brasil. Talvez no Brasil o sufismo possa ter deitado raízes muito mais profundas do que se pode supor, já que a religião muçulmana chegou até aqui primeiramente através dos escravos Malês. De qualquer modo, hoje em dia, sabe-se da presença de algumas ordens: a Chisti, muito difundida na Índia, a Naqshabandiya, que existe aqui há 25 anos, a Surawaardi, Shadhiliya, a Ordem Sufi Internacional e a Halveti AI-Jerrahi. É provável que o sufismo tenha se manifestado pela primeira vez no Brasil no sec. XIX, por conta dos malês, escravos africanos de religião muçulmana trazidos ao país pelo trafico negreiros. Mais recentemente, zawias de centenárias confrarias sufis se estabeleceram nas grandes cidades brasileiras, como são Paulo, rio de janeiro, Brasília, recife, Florianópolis ou foz do Iguaçu, onde há forte presença da colônia muçulmana. Os malês ainda mantêm pequenas comunidades nos estados da Bahia e do rio de janeiro. Há noticia de um xeque sufi que viveu na cidade do rio ao final do século passado.
Contudo, o sufismo no Brasil, o sufismo é pouco conhecido e praticado. A ordem Jerrahi conta hoje, em São Paulo, com duas tekkés, isto é, espaços para o culto. Uma delas, em Cotia, onde o sheikh Ismail Çimen reúne um grupo de seis dervixes. Nascido em Istambul, na Turquia, o sheikh mora no Brasil há 11 anos, mas recebeu a autorização para ser mestre há dois anos e meio. Músico, o sheikh Çimen toca ney, a flauta de junco da música sufi, e o alaúde oriental, um instrumento de cordas também utilizado nas cerimônias. Ao contrário do que se possa pensar, não são apenas árabes, turcos ou nascidos em famílias muçulmanas os que abraçam o sufismo. O próprio sheikh Muhammad Ragip, da tekké da Penha, em São Paulo, é um exemplo de ingresso no Islã a partir do sufismo. Apresentado à religião na Turquia, sheikh Ragip é quem conduz as reuniões semanais às quintas-feiras e domingos. Quanto ao número de freqüentadores, sheikh Ragip afirma ter conhecido desde ordens com três pessoas até milhares. Em São Paulo há também, por exemplo, a ordem Chazulya Iachrotia, que se reúne em São Bernardo do Campo e conta com, pelo menos, 350 pessoas.
As Zawias Shadilitas brasileiras têm algumas centenas de adeptos, que se reúnem regularmente para rezar e debater temas místicos, sob a direção de um muqadam (representante) do xeque da ordem, sediado na cidade do Cairo, Egito . As reuniões inchem a reza comunitária das preces canônicas e do wird (rosário muçulmano) concluído a cerimônia, é lido e meditado um texto espiritual do fundador, o xeque shadili. (sec., XIII). Os Shadilitas brasileiros praticam a dança em circulo acompanhada da invocação ritual do nome divino. As mulheres cumprem os mesmos rituais dos homens, mas ficam separadas deles, num balão situado acima da zawia. A maioria nas sessões de dhikr veste roupas ocidentais, mas há alguns que mantêm o costume tradicional e preferem os trajes orientais, considerados mais apropriados para a vida espiritual. Outra característica é a importância concedida à khalwa, o retiro espiritual. O padrão é isolar-se por algumas horas, meditando e praticando a invocação (dhikr).
Os discípulos do famoso xeque derqavi dão da mesma forma importância à harmonia e ao equilíbrio do ambiente no qual realizam seus ritos, de maneira que a zawia é um local propicio à contemplação – com seus belos tapetes orientais, suas lâmpadas de metal trabalhado, suras do corão em forma de retábulos e as inscrições do nome de Deus em telas de fundo dourado. Eles portam ainda em volta do pescoço grossos rosários de madeira, com noventa e nove contas, cada uma delas representando um dos nomes de Deus, segundo o sufismo.
Conclusão.
Sufismo: O sendeiro para a Presença Divina. O sufismo é conhecido como a Via do Coração; a Via do puro místico caminho do Islam. Seja qual for o nome com que o chamem, ele é o caminho que conduz à Presença Divina. Os sufis desejam uma plena conexão com Deus e, para isso, não acreditam no racional para explicar tudo. Ser sufi é acreditar não apenas no que se vê, mas buscar o contato com o transcendente e metafísico. E para atingi-lo, não é suficiente apenas ler os principais poetas sufis, como Rumi e Attar, donos de célebres obras como “Fihi ma fihi– O livro do interior” e “Linguagem dos Pássaros”, respectivamente, ou ainda de Omar Khayam, Sa’adi, ‘Attar e Hafiz. A prática é essencial. Sheikh Çimen sintetiza a partir de uma metáfora: “A água não tem um gosto que dê para explicar, o vento não tem cor. Não dá para explicar o amor. O sufismo não é um caminho de informação, mas de experiência”.
Bibliografia.
“A Century of Sophia Perennis in Brazil” in: Revista Sophia. Oakton, E.U.A, foundation for traditional studies, winter, 1998.
“O Outro Islã” in: caderno de sábado, jornal da tarde 15/09/1090.
Mateus soares de Azevedo. Mística Islâmica. Atualidade e Convergência com a Espiritualidade Crista. 2ª edição. Editora vozes. Petrópolis, 2001.
Religião – Islamismo na: Revista "MUNDO e MISSÃO" por Laila Ayou.
Soares de Azevedo. Iniciação ao Islã e Sufismo. Rio de janeiro. Editora Record, 1994.
*Editor.
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