Mas afinal de contas o que é comunicação? A comunicação é descrita com uma variedade e diversidade de definições por que, ao longo do tempo, conquistou novos parâmetros junto à economia, à política, à filosofia, à cultura e a religião. Muito mais do que a mera troca de informações, os processos comunicativos abarcam a utilização dos indivíduos, o emprego de tecnologia e a intersecção com normas culturais e sociais. Esses processos também estão permeados de ideologias, visões de mundo, e são fundamentais nas relações de poder. Por isso, para percorrer suas definições seria necessário um tratado longo e diversificado, mas também aberto. Certamente, há modos e modos de apresentar o discurso, segundo a visão e a finalidade que se deseja quando se fala em comunicação.
Foi no Séc. XVII que o termo ‘comunicação’, ganhou consistência. Na maior parte dos discursos contemporâneos, o sentido de comunicação torna-se bastante confuso, misturando contornos intelectuais bem definidos. As definições são úteis, por um lado, e enganosas, por outro. Úteis, por que nos proporcionam uma primeira aproximação ou identificação ao tema ou ao objeto em questão. Enganosas , por que facilmente criam para nós a falsa ideia de que definir uma coisa é conhecê-la e dela apropriar-se. Algumas definições tendem desde o começo a ser de certa forma dedutiva e a ter objetivo etimológico. Outros teóricos valorizam o caráter inter-relacional da comunicação, já que o ato comunicacional humano implica a necessária relação entre os participantes desse processo comunicativo, mesmo quando um dado meio (carta, telefone, e-mail, radio, pintura) é utilizado para transmitir as mensagens entre o emissor e o receptor. Uma definição simples e freqüentemente disseminada é a que estabelece a comunicação como uma ‘transmissão de informações’. Embora seja uma apreensão correta, peca pela superficialidade, uma vez que não esgota a potencialidade dos atos comunicativos.
O termo comunicação deriva do latim comunicare, que significa partilhar ou tornar comum. Em latim, communicatio não se refere às artes gerais da relação humana via símbolos, nem sugere a esperança de algum tipo de reconhecimento mútuo. Na teoria retórica clássica, communicatio também era um termo técnico que indicava um recurso estilístico no qual o orador assume a voz hipotética de um adversário ou público.[1]
Contudo, até com essas definições, o termo comunicação não está isento de complicações e ambigüidades. O mais das vezes, comunicare foi compreendido como um transferir ‘fisicamente’ de um sujeito ao outro, mas já Cícero pensava a comunicação como um transporte de conhecimentos. O filosofo inglês John Locke (1632-1704), no seu principal ensaio sobre o entendimento humano, afirma que a comunicação consiste na transmissão de ideias e pensamentos da mente de quem fala para a de quem escuta[2]. Assim teríamos ao menos três elementos constitutivos da comunicação, contudo, sem esgotar o complexo fenômeno: o emitente, que envia a mensagem, ou seja, a ‘fonte’ que está na origem da informação; o receptor / destinatário, a quem a mensagem é enviada; e a própria mensagem, constituída dos conteúdos emitidos. Neste processo, o ser humano emprega a comunicação para expressar ideias e sentimentos, orientar-se, coagir, narrar histórias, persuadir, exercer controle, conectar-se ao mundo, transmitir conhecimento, organizar seu pensamento e suas atitudes. A comunicação, aqui é entendida como um processo que sempre pressupõe alguma forma de interação entre os seres humanos.
Porém, para que aconteça a comunicação é necessário que exista um contato que é o canal conectivo – físico ou psicológico – que permite estabelecer e/ou manter a comunicação. Isso significa que, numa comunicação, portanto, ocorrem ao menos outros três novos elementos, alem dos que já foram mencionados anteriormente: o código, ou seja, o sistema de sinais pelo qual a mensagem é transmitida; o contexto, ou seja, tanto o conjunto de enunciados que acompanham a mensagem como a situação na qual o enunciado, é transmitido; e o contato, ou seja, o canal físico ou psicológico que permite o encontro.
A comunicação é sempre dinâmica, viva, e significa, no seu sentido mais amplo, transferência de experiências. Segundo BORDENAVE, na comunicação encontram-se mundos diferentes de experiências vividas. Pela comunicação as pessoas compartilham experiências, ideias e sentimentos, num processo que engloba cinco elementos[3]: a realidade ou situação onde ela se realiza e sobre a qual tem um efeito transformador; os interlocutores que dela participam; os conteúdos ou mensagens que elas compartilham; os signos que elas utilizam para representá-los e os meios que empregam para transmiti-los.
A origem da palavra comunicação, como conceito etimológico, introduz a ideia de comunhão, comunidade. Como diz Wilbur Schramm, quando nos comunicamos, tratamos de estabelecer uma comunidade, isto é, tratamos de compartilhar informações, ideias, atitudes. Sergio Luz Velozo endossa ao afirmar que comunicação é fazer participar, é trazer para a comunidade o que dela estava isolado. Comunicar significa, assim, estabelecer comunhão, participar da comunidade, através do intercambio de informações. Outros pesquisadores como Baragli, frisam que a comunicação é a faculdade de tornar comum aos outros não somente as coisas externas a ele, mas também ele próprio e as suas ações mais intimas da consciência – ideias, vontades, estados d’alma etc. Apoiando esta definição, Rueseh e Bateson concordam que a comunicação não se refere somente à transmissão verbal, explicita e intencional de mensagens. O conceito de comunicação inclui todos esses processos por meio dos quais as pessoas influênciam outras pessoas. Essa definição se baseia na premissa de que todas as ações ou eventos têm aspectos comunicativos, assim que são percebidos por um ser humano; implica, além disso, que tal percepção modifica a informação que o individuo possui e, por conseguinte, influência esse indivíduo. [4]
No campo religioso, o conceito da comunicação não é menos tratado. A Igreja entende comunicação enquanto meios e processos segundo a missão de Cristo, o verdadeiro Comunicador da vida de Deus. Comunicar é muito mais do que uma sucessão de imagens ou palavras, sem nada acrescentar ou mudar no ser humano. A comunicação expressa um sentimento profundo que não é simples e nem é passageira emoção ou prazer.[5] Assim, pode-se dizer que o autêntico comunicador é aquele que tem então a atitude de quem evangeliza na santidade e com ardor missionário[6], que revela ter um zelo que brote de uma verdadeira santidade de vida, alimentada pela oração e, sobretudo, pelo amor à eucaristia[7]. Na mesma dimensão, SILVA, falando da igreja e evangelização pela TV, afirma que:
Só existe uma autêntica comunicação humana onde o comunicador dá o que é, numa atitude de abertura para o outro, a ponto de identificar-se com ele, sem se subjugar. Comunicar é ser. Por isso, todo artificialismo é obstáculo à comunicação. Comunicar é ser o outro de certo modo, numa conjugação que não é confusão. Daí que um comunicador isolado e desligado é massificador.[8]
Os seres humanos são considerados animais sociais. E no campo social, muitos autores concordam que a comunicação é a base sobre a qual as sociedades podem ser construídas, uma vez que permite aos organismos interagir de forma produtiva. O termo é definido como o ato ou processo de troca de ideias, mensagens e informações, como a fala, sinais ou escrita. Assim, segundo Thayer, a comunicação é o processo vital através do qual indivíduos e organizações se relacionam uns com os outros, influênciando-se mutuamente. Designa e engloba todos aqueles fatores humanos nos quais se dá um processo de criação ou transmissão de informação e cujo protagonista é o homem que assimila tal informação[9].
*Este artigo faz parte do trabalho final de conclusão de curso, 2010 - "Paulo e Comunicação".
[1]PUNTEL, T. Joana. Cultura Midiática e Igreja. Uma nova ambiência. São Paulo: Paulinas, 2005. p. 17-25
[2]GRILLI, Massimo. Evento comunicativo e interpretação de um texto bíblico. Revista Eclesiástica Brasileira v. 63. Petrópolis: Vozes, 2003. p. 295-319.
[3]BORDENAVE, J.E.D. O que é Comunicação. São Paulo: Editora Brasiliense, 2006. p. 40.
[4]RABAÇA, C. A; BARBOSA, G. G.. (Orgs.). Dicionário de Comunicação. Nova edição revista e atualizada. Rio de Janeiro: Editora Campus Ltda., 2002. p. 155-157.
[5] PATIAS, Jaime Carlos. A Comunicação na Igreja. Disponível em:
<Http://www.adital.com.br/site/noticia2.asp?lang=PT&cod=24115>. Acesso em: 12 Abril 2010, 21:31:14.
[6]Cf. João Paulo II. Carta Encíclica Redemptoris Missio (Sobre a validade permanente do mandato missionário da Igreja), 7 de Dezembro de 1990.
[7]Cf. PONTIFÍCIO CONSELHO PARA AS COMUNICAÇÕES SOCIAIS. Aetatis Novae. São Paulo: Paulinas, 1992.
[8]SILVA, M.G. A Igreja e Evangelização pela TV. São Paulo: Paulinas, 1991. p. 61.
[9]FREIXO, Manuel João. Teorias e Modelos de Comunicação. Lísboa: Instituto Piaget, 2006. p. 20-30.
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